domingo, 22 de novembro de 2015

CARTOLA E CHARLES BUKOWSKI TOMAVAM UMA NO BOTEQUIM DA ESQUINA

Os últimos dias não têm sido lá muito animadores. É tanta bosta acontecendo e sendo noticiada, que a galera tá se pegando em discussões sobre que merda fede mais. O que, evidentemente, não contribui pra porra nenhuma, mas as pessoas tomam partido e aí já viu, né?
Cerca da quinta parte do Estado de Minas Gerais pode ficar mergulhado em lama tóxica e mais um bocado do Espírito Santo (tão noticiando que mais barragens podem estourar – imagine só o nível da merda em se considerando as possíveis cagadas ainda não admitidas, e como a gente bem sabe, sempre há cagadas não admitidas) isso tudo em função de um puta CRIME AMBlENTAL, que eufemisticamente a nossa escrota imprensa insiste em dar o nome de “acidente” e/ou “tragédia”. Simplesmente, as podres de ricas das mineradoras, responsáveis pela cagada, pouco estavam se cagando pra possibilidade de as barragens se romperem. A única preocupação delas era garantir os lucros dos acionistas, como todo o ser humano minimamente lúcido sabe. O governo, por sua vez, tanto nos Municípios, no Estado e na União, foi conivente; aliás, como sempre é com as grandes mineradoras. O amor tórrido entre o Estado brasileiro e as grandes corporações que representam dinheiro rápido é absolutamente inquestionável. Nossos políticos não sentem tesão pelo “a longo prazo”, pelo “desenvolvimento social”; o que lhes excita é a grana correndo nos cofres, farta e imediata.
Em França, como dizem os pernósticos, o bicho pegou também. Mais de uma centena foi massacrada pelos maníacos do chamado Estado Islâmico - o Califado que pretende dominar todo o mundo árabe e inclusive as regiões que na IDADE MÉDIA fizeram parte do Império Islâmico (os portugueses e espanhóis que fiquem espertos...) e que declarou guerra ao Ocidente. A imagem de uma tragédia grega (ainda não escrita) em que a mãe é odiada e assassinada pelo próprio filho ilustra o porquê do Estado Islâmico. O Ocidente (que também somos nós, pois enquanto brasileiros, somos ocidentais, ainda que de perifa, ok?), na figura do mais ilustre dos seus representantes, ninguém mais ninguém menos que os Estados Unidos da América, É A MÃE DESSE MOVIMENTO TÃO BOÇAL. Ao contrário do que a molecada fascistinha anda postando no facebook, as atrocidades cometidas por esses caras não estão radicadas no Alcorão, simplesmente não decorre do islamismo. Sei que a maior parte das pessoas não é capaz de interpretar as coisas de um modo não hollywoodiano (décadas de lixo cultural embotaram suas mentes), ou seja, querem demonizar um grupo, e divinizar outro. Se os muçulmanos fossem tão ruins assim como dizem, rapaziada, possivelmente nem eu nem você existiria. Vou me explicar melhor. Os árabes ocuparam o que hoje é a Espanha e Portugal, certo? Certo. Pois bem, sei que você não gosta dessa conversa, mas agüente firme, no final vai lhe fazer bem. Me diga uma coisa, durante essa ocupação árabe você já ouviu falar de imposição da religião muçulmana em cima dos cristãos? De terem arrancado a cabeça dos infiéis? Se você ouviu alguma coisa assim, sinto lhe dizer, você não sabe PORRA NENHUMA de história! Os árabes respeitavam as religiões diversas e eram bem menos hostis que os invasores romanos, meu caro (você se recorda do que os nossos antepassados “civilizadíssimos” romanos aprontaram com os judeus? E com a galera de Cartago...?). O principal interesse deles era comercial. E, assim como os romanos, foram os responsáveis pelo desenvolvimento cultural das regiões em que ocuparam. Inclusive, há quem sustente que as grandes navegações ibéricas só ocorreram a partir dali justamente por conta dos avanços tecnológicos trazidos pelos mouros (esses barbudos que você não gosta) Isso sem contar que foi graças aos árabes ( narigudos, de olheiras, pele trigueira, cabelos negros...) que a herança cultural grega chegou até nós. Se não acredita, pergunte ao seu professor de história.
Na África, “por incrível que pareça”, o bicho continua pegando. As contínuas e insanas lutas tribais (muito bem armadas pelas potências ocidentais, frise-se) têm martirizado o povo africano e a notícia de centenas e centenas de mortes tem sido freqüente. Tretas na Nigéria, na Líbia, Sudão...No Oriente Médio, uma guerra civil que  não tem fim. O resultado disso são milhões de refugiados, que simplesmente lugar nenhum do mundo quer por perto, por vários motivos, inclusive os mais mesquinhos que você pode imaginar. Os autodeclarados cristãos, inclusive, se esquecem dos ensinamentos bíblicos e se prendem à conversa xenófoba dos lunáticos apocalípticos que acabam ganhando platéia em tempos difíceis. É foda!
O mundo é um moinho. Cass, a garota mais linda da cidade, simplesmente não consegue suportá-lo. Não que seja um problema dela. O problema está no mundo. É o mundo que não a aceita como ela é. Ele até a quer, mas de um jeito que Cass não consegue ser. Ela prefere desaparecer a ter que ser como o Espremedor quer. A mestiça de índios cherokee e irlandeses  - eu a imagino assim -, incapaz de fingir sentimentos, de recolher o choro ou de esconder sua felicidade, não dava a mínima para as notícias dos outros continentes. Não que ela não sofresse pelos outros; muito pelo contrário. Ela só não conseguia fingir interesse por algo que não pertencia à verdade dela, ao mundo dela. Cass estava inteira em cada situação, em cada alegria, em cada dor; ela intuía que aqueles sujeitos engomados que comentavam os assuntos na TV eram mortos vivos, incapazes de realmente sentir algo, e que tudo aquilo era uma puta falcatrua, uma baita picaretagem. Para Cass, eles não passavam de abutres. A linda mestiça ajudava as pessoas pobres que conhecia, e nunca se gabou disso; não por temer passar por orgulhosa ou arrogante, mas porque sabia que tudo o que pudesse fazer por essas pessoas não seria o suficiente para salvá-las. Cass sentia toda a dor do mundo na figura de um só mendigo, ou de um só bêbado derrotado na calçada do bar. Ela vibrava nas ondas do ambiente. Ela era toda empatia. Um dia, Cass desistiu, antes que o mundo a moesse.
O editor alemão do Bukowski o convidou para passar uns dias no Rio de Janeiro. Sigfried, o editor, há muito conhecia o verão carioca e estava em falta com o velho Buk. Teria sido impossível convencê-lo se não fosse a caipirinha (Sigfried o levou para um bar, em L.A., que servia o drink, e disse ao Hank que no Brasil era ainda melhor) e a promessa de editar seus livros no Brasil e apresentar belíssimas cariocas. Charles Bukowski sempre ouvira dizer sobre a beleza das brasileiras e perguntou e reperguntou a Sigfried sobre esse mito. O editor, como bom alemão que era, disse que não havia em lugar nenhum do mundo mulher mais bonita. E, empolgado, disse a Bukowski que não só as mulheres, mas a música carioca era a melhor do mundo. O velho Buk não respondeu; pensou que o editor estivesse tão bêbado que já estava no grau de falar bosta.
Era fevereiro. Rio 40 graus.  Hank e o editor alemão tomavam uns tragos num botequim. Sigfried insistia num papo de que faria uma surpresa ao velho Buk. Hank já estava na lona, não queria mais conhecer mulheres. Havia tentando umas, levou uns tapas, broxou, foi foda. Estava com preguiça de começar tudo aquilo de novo. E o calor carioca era surreal. Mas Sigfried lhe disse que não era uma outra garota, mas sim um poeta. Logicamente, o Bukowski ficou mais puto ainda: “porra, Sig, você sabe que eu odeio poetas!” Sigfried riu, e disse que era um poeta brasileiro, o melhor letrista e sambista que o mundo já teve. Nessa altura, Bukowski já havia conhecido o samba-canção, o choro e a bossa nova. Tinha ficado com o samba canção e a caipirinha.
E não é que ninguém mais ninguém menos que Cartola apareceu no botequim? O alemão abriu um sorriso que o Buk jamais havia visto naquela fuça tão sisuda. Em português, insistiu para que o homem se aproximasse. Fez as honras. Incrivelmente, Charles Bukowski logo simpatizou com Cartola. Em geral, se dava bem com homens negros, a vida lhe havia ensinado a sabedoria que essa gente tem. No momento em que botou os olhos no Cartola calculou que aquela cara toda detonada, aquele corpo magro, era pura poesia. Via um homem feio, mas que ao mesmo tempo era incrivelmente belo, como uma divindade. Talvez a bebida tivesse ajudado. O caso é que os três beberam e riram muito. O astuto Sigfried, o editor, habilmente fazia a tradução.
O mundo, esse gigante moinho, não parou de moer e estourar enquanto os três estavam juntos. Claro que não. A jovem mulata teve seus sonhos triturados. Cass havia cortado, pela última vez, seu belo pescoço igualmente mestiço. Mas havia a possibilidade, o porvir. Se existe solução para todo o sofrimento do mundo ela mora exatamente no mesmo lugar de onde surgem todos esses sofrimentos, como soro pra veneno de cobra: está na nossa diferença. Se você tem tanto orgulho daquilo que você é (negro, branco, índio, gay, gigolô, muçulmano, judeu, traveco...) saiba, querido, que você só é porque outro não é, ou seja, num mundo em que todos se tornassem exatamente iguais, as suas singularidades desapareceriam, VOCÊ DESAPARECERIA. Se você ainda não entendeu, agora vai: o que seria do Corinthians sem o Palmeiras? Portanto, porra, se você precisa de motivos para amar, ame as outras pessoas porque elas são condição pra você ser o que você é. Cass não precisava de motivos. A jovem mulata também não. Quem sabe um dia você também não precisará? Quem sabe...

domingo, 12 de julho de 2015

HETERODOXIA

Eu me sentia um estúpido completo. Você tinha toda a sorte e toda a razão. Existia uma queda de braço imaginária e nela você ganhava de mim de lavada. A minha pretensão de saber de alguma coisa se foi. Seus olhos, apesar das olheiras, estavam mais vivos e brilhantes do que nunca. Seu sorriso, ainda que mais amarelado, permanecia lindo. Pode ser que tenha sido sem intenção, mas você me derrubou. As minhas palavras, que antes as havia ensaiado em minha cabeça, não surgiram quando delas precisei, e talvez mesmo que aparecessem, não iriam servir para evitar nada. Meu corpo falou por mim. Baixei os olhos, pintei de cinza minha expressão, meus ombros se encolheram. Você pôde perceber, mais uma vez, que havia vencido, e isso fez seus olhos ainda mais brilhantes, e seu sorriso mais belo. Quando me despedi de você, o que já havia de quebrado dentro de mim passou a me perfurar, vagarosa e dolorosamente. Tentei me consolar pensando que não podia ser de outra maneira, afinal eu havia sido derrotado.
Nosso encontro ficou na minha lembrança como um doce pesadelo. Nossa história ganhou mais esse estranho capítulo. Me senti culpado por me permitir sofrer daquela maneira, ainda que soubesse não haver outra solução. Você continuará com o seu sorriso despreocupado, e eu possivelmente enlouquecerei aos poucos, pagando por minha heterodoxia.

Haverá um dia em que eu montarei em você como um lobo faminto e você me desejará. Mas, nesse instante, não será mais amor o que eu sentirei por você. Como o amor nos afastou, talvez a falta dele nos atraia.

terça-feira, 30 de junho de 2015

FATALIDADE

“Silêncio é a porta do céu,
No nada há a verdadeira sabedoria”
Ele pensava,
E naquele mesmo instante
O cavalo monta na égua
Caminhões vomitam diesel pela rodovia
A vida pulsa violentamente na forma de roncos de motores e de relinchos bestiais
Enquanto as bactérias, insistentemente, faziam, dentro dele, o trabalho sujo

E tudo seria tão especial...
Tudo seria tão especial se não fosse mera fatalidade.

domingo, 26 de abril de 2015

A MEGALOMANIA ALHEIA

A megalomania alheia lhe fez acreditar que as coisas são o que devem ser
Ao não permitir que florescessem outras maneiras de se viver
Lhe fez acreditar que a verdade está nos berros mais altos
E que há sempre quem grite por você
Ao fazê-lo concordar que, por natureza, você é mudo

A megalomania alheia roubou sua saúde
Fazendo-o crer que fast-food é comida de gente
Ao lhe mostrar que cachorro não bebe refrigerante

A megalomania alheia roubou o seu sono
Fazendo-lhe constantemente apático e cansado
Seja  por meio de britadeiras, buzinas, motores
Seja através do bom e velho sentimento de culpa (o mais estrondoso barulho)

A megalomania alheia sugou de você todo o seu entusiasmo
E, no lugar, lhe encheu de medo
Quando lhe roubou o espaço público e lhe deu a TV

A megalomania alheia lhe convenceu de que o mundo não é para você
Que sua existência é absolutamente irrelevante
E que, por caridade, você é tolerado
Em contrapartida a essa benesse, você deve muito a eles
E será sempre lembrado disso pela polícia, as leis, e por aqueles sujeitos-bem-alimentados-que falam-na-TV

A megalomania  alheia lhe fez idolatrar Ayrton Senna, Edson Arantes do Nascimento e William Bonner
E não se dar conta de quantas pessoas verdadeiramente maravilhosas estão num raio de poucos metros de você, e que ídolos televisivos, invariavelmente, não passam de idiotas

A megalomania alheia fez você acreditar que todos são iguais
Fazendo-o não perceber a riqueza que há na diversidade e na singularidade
E que igualdade entre os homens, para os megalomaníacos, radica no fato de tanto você quanto eu sermos capazes de consumir, e nada mais

A megalomania alheia lhe fez sonhar por mundos oníricos construídos em filmes
E não perceber as pequenas, porém incessantes, belezas que lhe rodeia
A megalomania alheia pretende que sua vida siga um roteiro predefinido
E que você seja um ator bastante disciplinado
Caso contrário, ela fará com que as outras pessoas lhe marginalize, forçando-o a se render

A megalomania alheia fará com que você também queira ser  um megalomaníaco
Não para que você efetivamente consiga, mas para que apenas deseje
E o megalomaníaco desejo lhe impedirá de perceber a realidade, mantendo a salvo a megalomania alheia.






domingo, 15 de março de 2015

DEVEMOS MESMO QUEIMAR O RABO DA DILMA?



A galera tá nas ruas Brasilzão a fora. Idosos, empresários, aquele policial que lhe enquadrou na semana passada, crianças, aleijados, estudantes, vagabundos, o cara que arrancou o seu siso e doeu, alunos de MMA, a(o) ex-amante do seu pai, atendentes de telemarketing, a mina que te deu um pé na bunda (e doeu também), enfim, tem muita gente.

Me pergunto se todos têm consciência do que ali fazem. Olha, pra começar, já vou dizendo, não sou petista. Inclusive, nas últimas eleições, no 1º turno, não votei na Dilma, votei na candidata do PSOL (e daí? Achou ruim? Vem pro pau!). No 2º, eu votei no PT, por estado de necessidade (não preciso explicar por que não votei no Aécio, ou preciso?). Segundo noticiado, as manifestações foram convocadas por três grupos. Um deles quer a volta do governo militar (eles se esqueceram de perguntar aos militares se eles têm interesse no cargo, mas... deixa pra lá), outro quer o impeachment da Dilma, e o último quer, tcham-tcham-tcham-tcham, o fim da corrupção (original, não?).

Não preciso dizer que faz sentido lutar por um país menos corrupto, mas não será botando o PSDB na cúpula do poder que conseguiremos. Se você acha que os tucanos fariam um país menos corrupto, você é realmente digno de pena. O caso é que toda essa gente bradando por coisas diferentes, a maioria repetindo o que ouvia sem saber direito o que significa, soou esquizofrênico. Mas isso é coisa de Brasil e de sua gente muito bem politizada pela nossa mídia bastante democrática que não é controlada por um seleto grupo de conservadores...

Será que é tão difícil perceber a manipulação que “tá no ar”? As manifestações em oposição ao impeachment da Dilma tiveram quase nenhuma cobertura. Cinco segundos de imagem e uma breve definição, foi o que eu vi no Jornal Nacional (eu assisti apenas para confirmar o que imaginava que iria acontecer, e que de fato acabou acontecendo). Por outro lado, para as manifestações de hoje, houve plantões jornalísticos, mudança do horário do jogo e sempre os repórteres da globo e da band dizendo: “a manifestação é pacífica”; “são milhares de pessoas”; “contra a Dilma”. Eles repetiam isso, quase como um mantra. Mais ou menos às 19 horas deste domingo, o Ministro da Justiça convocou a imprensa para falar sobre as manifestações. Apenas a TV Cultura exibiu o pronunciamento do cara. Por que a Globo não transmitiu a posição do governo sobre os protestos? O tema não era tão importante a ponto de terem ficado o dia todo cobrindo?

Também não foi agradável ter visto aquelas pessoas batendo panela. Eu sei que esse governo cometeu e comete erros, mas não tem como não reconhecer os méritos dele no COMBATE À FOME, PORRA!!! Na alta cúpula do poder do país, desde João Goulart, o governo do PT foi (ainda é, se vocês deixarem, é claro...) o único que se preocupou com as hordas de esquálidos que se avolumavam pelos rincões do país e periferias das nossas grandes cidades. A ONU reconheceu que o Brasil saiu do mapa da fome no mundo, pessoal! E vocês batem panela... Isso é que é vontade de riscar o teflon!

Alguns já me disseram que mesmo os pobres que votaram na Dilma, os principais beneficiários das políticas sociais dos anos de governo petista, já se convenceram de que o ciclo do PT acabou e querem algo novo. Eu concordo com vocês. Boa parte dessas pessoas é facilmente influenciável e não prima por uma boa memória. Talvez alguns de seus filhos que tiveram a oportunidade de fazer faculdade (os únicos em toda a árvore genealógica dessas famílias), graças justamente aos “petralhas”, também tenham aderido à onda anti-Dilma. Coitados, querem ser aceitos e abraçar a moda, mas vão se arrepender quando a meritocracia à moda Brasileira (diga-se, elitismo) voltar.

Nêgo, você tome tento e pense por você. Não quero formar a opinião de ninguém com isso aqui, até porque ninguém vai ler, mas quero lançar a dúvida. Eu mesmo escrevo pra tentar compreender todo esse caldo fétido. Veja, ou melhor, note, rs, eu sei que a Dilma tem cara de um molequinho atentado, que ela não é articulada, simpática e fotogênica. Mas, meu querido, essa mulher dedicou a vida dela aos outros, e ainda dedica. Você acha que pra ela é fácil ser chamada de puta, ladra, bandida, corrupta, terrorista, escrota, todos os dias, por pessoas que sequer se dão ao trabalho de ler mais do que o limite de caracteres do twitter (isso sendo otimista), e se acham a elite intelectual do Brasil a ponto de querer criticar o Juca Kfouri e o Leonardo Sakamoto?

Eu também, assim como você, acho política, pelo menos da forma como aprendemos a compreendê-la, uma RESSACA (o porre é bom, né?). Mas, não tem jeito, lá vai o politiquês: i) temos de apoiar a REFORMA POLÍTICA (mudar as regras dos financiamentos de campanha, da composição das maiorias (pra que ninguém, uma vez no poder, tenha que ser obrigado a fazer coligação com o PMDB - isso sim contribuirá com a diminuição das corrupções - "ah, mas ninguém é obrigado, o PT fez a coligação porque quis", tá bom, boneca, olha só: "se não coliga, não governa", esse é o mantra do nosso presidencialismo, de autoria dos peemedebistas); e ii) tributar mais as GRANDES FORTUNAS E AS GRANDES HERANÇAS (Dilma, não tribute o consumo e a produção, cacete, tribute os ricos, tá, eu sei, no Congresso não passa, mas tente, e diga isso em rede nacional, que o arrocho vai ser em cima dos ricos, se não der, não deu, pelo menos você terá tentado...). Alguns de vocês vão achar que essas minhas sugestões são muito duras, que esse papo de tributar ainda mais os ricos é conversa de socialista vagabundo, de gente que não quer empreender. Saibam que SEUS QUERIDOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA JÁ FIZERAM TUDO ISSO HÁ UM TEMPÃO, SABICHOSOS! Vocês sabem quanto é o percentual que os herdeiros norte-americanos têm de pagar pro fisco e o quanto os ricaços pagam de impostos por lá...?

Pra concluir, NÃO TEMOS DE QUEIMAR O RABO DA DILMA, a não ser que vocês queiram a volta dos anos noventa, o aumento da ainda absurda desigualdade social, a privatização do que resta das empresas públicas (se é isso que você deseja, recomendo que leia uns artigos de economistas da CEPAL, se não quiser ler, que se foda...). O caso é que todo o mundo quer, pede, reclama, brada, mas, se dedicar a tentar compreender esse país, já é outra jogada (vamo lá, quantos de vocês leram Darcy Ribeiro e Raymundo Faoro?). É mais fácil abrir essas bocarras bem alimentadas e reclamar. Raulzito já dizia: “O PROBLEMA É TÃO FÁCIL DE PERCEBER, É QUE GENTE, GENTE NASCEU PRA QUERER...”






sexta-feira, 6 de março de 2015

QUE OUTRA PALAVRA PODERIA RIMAR COM DOENÇA?


Eles forçaram a rima torta com paixão
No instante em que, juntos, estavam selados à vida e à morte
Para até o último dia, ligados às vísceras

O casal soropositivo havia tido uma filha
E, a despeito de, durante toda a gestação, a mãe abusar do crack
A menina nascia magnânima
A vida se renovava mesmo diante de todas as circunstâncias em desfavor

As tosses contínuas, as febres, as estranhas e inesperadas melhoras
Não se poder ter a menor ideia sobre o modo de se estar no dia seguinte
A dependência cruel, a insistência do Sol em aparecer cada vez mais quente e brilhante
O olhar de pena combinado com nojo vindo dos outros, de todos os outros
O único desejo: o de desaparecer, lentamente, no último trago, fazendo-se virar fumaça 

Sem nem saberem como, muito menos o porquê, aquela menina estava ali,
Fazendo-se acontecer e forçando-os a resistir, nem que fosse por mais um dia, apenas
Sem desculpas, nem perdões
Apenas a realidade,
Para todo o fim,
Em sua profunda indiferença.