domingo, 12 de julho de 2015

HETERODOXIA

Eu me sentia um estúpido completo. Você tinha toda a sorte e toda a razão. Existia uma queda de braço imaginária e nela você ganhava de mim de lavada. A minha pretensão de saber de alguma coisa se foi. Seus olhos, apesar das olheiras, estavam mais vivos e brilhantes do que nunca. Seu sorriso, ainda que mais amarelado, permanecia lindo. Pode ser que tenha sido sem intenção, mas você me derrubou. As minhas palavras, que antes as havia ensaiado em minha cabeça, não surgiram quando delas precisei, e talvez mesmo que aparecessem, não iriam servir para evitar nada. Meu corpo falou por mim. Baixei os olhos, pintei de cinza minha expressão, meus ombros se encolheram. Você pôde perceber, mais uma vez, que havia vencido, e isso fez seus olhos ainda mais brilhantes, e seu sorriso mais belo. Quando me despedi de você, o que já havia de quebrado dentro de mim passou a me perfurar, vagarosa e dolorosamente. Tentei me consolar pensando que não podia ser de outra maneira, afinal eu havia sido derrotado.
Nosso encontro ficou na minha lembrança como um doce pesadelo. Nossa história ganhou mais esse estranho capítulo. Me senti culpado por me permitir sofrer daquela maneira, ainda que soubesse não haver outra solução. Você continuará com o seu sorriso despreocupado, e eu possivelmente enlouquecerei aos poucos, pagando por minha heterodoxia.

Haverá um dia em que eu montarei em você como um lobo faminto e você me desejará. Mas, nesse instante, não será mais amor o que eu sentirei por você. Como o amor nos afastou, talvez a falta dele nos atraia.