tag:blogger.com,1999:blog-55184650678778752062024-03-05T13:07:48.821-08:00Alexandre BolfariniAlexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.comBlogger25125tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-71601623522263547952018-02-08T09:34:00.000-08:002018-02-08T09:34:00.756-08:00RESILIÊNCIA<h2>
<br /></h2>
<div style="text-align: right;">
</div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i>RESILIÊNCIA: s.f. Figurado. <span style="background-color: white; color: #404040; font-size: 16px; line-height: 28.8px; text-align: start;">Habilidade de se adaptar com facilidade às intempéries, às alterações ou aos infortúnios.</span> </i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><i><br /></i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Pensando bem nem era pra eu ter
parado ali. Certamente havia coisas muito mais interessantes e prazerosas a
serem feitas, mas nem sempre sabemos se efetivamente as realizaremos, tudo às
vezes morre no hipotético - talvez esse seja o segredo do sucesso, vencer o
hipotético; ta aí um bom mote pra livro de autoajuda, ou uma bosta de um mote,
seja como for autoajuda é sempre um sucesso, o que denuncia o nosso fracasso, ao menos no plano do hipotético...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O caso é que, atendendo ao chamado de
um antigo colega de escola, me vi sentado na mesa do bar de esquina. Era na
calçada e, por poder ver o céu e o movimento da rua, a chateação diminuía
consideravelmente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Além de mim e do cara, estava sentado à mesa
um casal na faixa dos 40. O homem era forte e sorridente, meio bobo alegre; a
mina era bem magra, de aspecto nervoso e emotivo (o que quase sempre não indica
boa coisa), cabelos lisos e negros, aparentemente meio ensebados e tinha
olheiras profundas, das que dão em pessoas que dormem muito mal ou sofrem de alguma forma de desnutrição, ou alguma talassemia, coisas assim...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Esse meu ex-colega da escola puxou
antigas histórias – muitas das quais eu não me recordava. Não sei se por ser
muito gente boa, ou por ter um senso de humor muito fácil, o quarentão ria de
tudo, e não era um riso que incomodava, era caloroso. Você com certeza iria
querer tê-lo como irmão, vizinho ou colega de trampo. A mina dele, por sua vez,
fazia uma cara enfezada, mas não parecia ser em razão de estar ali. Ela olhava
para as pessoas e franzia a testa,
parecia afetar-se, comover-se, talvez imaginando o que as pessoas diziam ou
pensavam. Os caras, contudo, não se davam conta, ou fingiam não se importar com
a estranha expressão da mulher.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Houve um momento, então, que ela
entrou na conversa. Não me lembro qual foi o gancho que pegou, mas quando dei
por mim ela estava falando da horrível situação das escolas públicas, relatando
eventos trágicos e, como uma atriz decadente, torcia a cara das mais variadas
formas para gerar comoção. Sua voz era estridente, metálica e meio falhada. Parecia
estar doente ou, quem sabe, ser doente. O maridão, incrivelmente, não mudava
sua expressão plácida. Ela disse muitas outras coisas, muito provavelmente sem
sentido, o caso é que numa certa altura não prestei mais atenção. O que
realmente me fascinou foi o maridão, que candidamente parecia não se
incomodar. Eu me perguntava como o cara agüentava aquilo, imaginava como seria
o cotidiano com aquela mulher, como seria transar com ela, ou pedir pra que
pegasse um copo ou passasse o azeite...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Talvez pensando o mesmo que eu, já
incomodado com a figura, meu ex-colega deu uma cortada na mina. A reação dela,
porém, foi desagradável. Passou a falar mais alto e exagerar nos gestos, o que
resultou na queda de dois copos e uma garrafa na calçada. Nesse instante, olhei
pro seu marido, esperando que a placidez sumisse. Que nada! O cara continuou
sorrindo, como um bonecão de cera.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">O garçom veio pra limpar a coisa
toda, mas a mulher não deixou, teimou que iria limpar. No que levantou pra
pegar os cacos, escorregou e caiu tão rapidamente, que seu marido não conseguiu
segurá-la. A queda foi plástica, estilizada, daquelas em que a pessoa se
espalma no chão, cai por inteiro. Nem preciso dizer que a galera do bar se
manifestou na forma de berros e grunhidos típicos de seus </span><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 21.4667px;">frequentadores</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"> –
gente entediada esperando que algo aconteça, por mais idiota que seja, como se
sabe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O maridão a levantou, fez-lhe um
carinho na testa e cabelos, beijou-a e, apesar de todo o afago que a ela
dispensou não foi exitoso na tarefa de fazer daquela cara algo menos horrível –
a expressão de sua mulher estava mais assustadora que antes. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">Pensei que, após a queda, ela ia
ficar com a cara fechada e pronto. Mas que nada. Dali em diante, sua voz ficou
mais poderosa e, enquanto voltava a detonar o sistema público de educação e,
ingenuamente, botar a culpa nesse ou naquele político, notei que meu ex-colega
já estava se incomodando, meio que se sentindo envergonhado pelo seu amigo, o
maridão. Quem olhasse pra mesa ia presenciar uma cena deprimente - uma mulher aparentemente </span><span style="font-size: 18.6667px; line-height: 21.4667px;">ensandecida falando como se estivesse discursando para uma platéia interessada, quando na verdade era dois entediados e uma figura aparentemente desprovida de capacidade crítica.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O monólogo dela deve ter se estendido
por algo em torno de meia hora. Nesse tempo, refleti sobre as muitas formas de
loucura e que talvez a resiliência fosse uma delas. “Como esse cara agüenta?
Será que ele conheceu outras mulheres? Será uma promessa paga? Uma herança?
Devem levantar um busto em sua homenagem...”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">De repente, noto que algo faz mudar a
cândida expressão do marido. Ele olha com atenção, franzindo a testa, na
direção de um vigilante motoqueiro - desses que trampam de fazer ronda apitando
no período da noite - que dobrava a
esquina. Eu imaginei que havia algo grave acontecendo naquela direção, tipo um
mendigo sendo agredido, uma mulher apanhando, mas não, o cara olhava era mesmo
para o motoqueiro. O vigilante, ao se aproximar um pouco do bar, apitou. No
instante do apito, o maridão franziu todo o rosto, como se estivesse tomando um
choque ou uma picada, e nos disse, numa fala ansiosa, em volume alto e
estridente, que em nada fazia lembrar seu comportamento anterior, parecia vindo
de outra pessoa: “EU ODEIO ESSA PORRA DESSE APITO!!!”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Voltando pra casa deduzi que tamanha
resiliência tinha seu preço. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-11966914193938421642017-02-24T10:49:00.001-08:002017-02-24T10:51:44.408-08:00O BRASIL DO SENSO COMUM: A CONCLUSÃO DO INTRAGÁVEL ANO DE 2016<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-size: 14pt;"> </span><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;">Quem
já alcançou seus 25, 30 anos de vida certamente não se recordará de outro tempo
em que tanto se discutiu política. Claro que quantidade não traz consigo
qualidade. A popularização das mídias sociais teve o efeito de, por um lado,
trazer mais gente para esse tipo de discussão, mas, por outro lado, fez nivelar
a coisa por baixo, muito baixo. Não que antigamente não se ouvisse nos bares,
filas de bancos e supermercados coisas do tipo "espero que caia um meteoro
em Brasília", "bandido bom é bandido morto", "no tempo do
governo militar havia ordem e o Brasil crescia, vagabundo não tinha vez",
"socialistas são assassinos" etc etc. A diferença é que hoje a coisa
tá lá escrita e, em escala exponencial, viraliza-se, nos assombrando a cada
visita à praça pública dos nossos dias, qual seja, o facebook.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> O
ideal seria que as pessoas procurassem se informar de verdade antes de
manifestar opiniões tão categóricas, ou seja, usassem o bom senso. Ocorre, no
entanto, que o bom senso passa muito longe da maior parte dos posicionamentos
políticos que a gente vê, os quais, se bem analisados, não passam, em geral, de
preconceitos, ou seja, são absolutamente destituídos de qualquer argumentação
racional. Hoje um sujeito escreveu que "Lula é cachaceiro" e
"Dilma usa tarja preta", algo que, muito provavelmente, ele leu na
Veja ou em algum blog da direita. Como seria bom se os cachaceiros do Brasil
fossem como o Lula, um cara que, diga o que disserem, conseguiu romper com
barreiras seculares e bateu de frente contra os sempre donos do poder...! A
minha noção de cachaceiro é o coitado com a face espalmada na calçada do bar, e
não o Lula. Sinceramente, não fazia ideia de que cachaceiro pudesse ser
sinônimo de estadista. A rapaziada não deixa por menos quanto à Dilma.
Ofendem-na de cabo a rabo, não manifestam o menor respeito por uma pessoa que
quase perdeu a vida para que pudéssemos dizer o que pensamos, inclusive esse
monte de bosta que falam dela.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Faces
gordas e oleosas acompanharam com cara alegremente abobada a condenação da
ex-presidente ao impeachment. Ouvi fogos, buzinaço e gritos de euforia. Nada
mais semelhante com futebol, não? Com certeza deve haver uma alegria na
burrice. Um certo estado de torpor mental que leva o sujeito a facilmente ser
induzido, adestrado. Pensar de maneira crítica no Brasil é algo tão estranho
que é quase como se você fosse um estrangeiro, na pegada do estrangeiro do
Camus, tá ligado? Bom, se você conhece o Camus certamente você também se sente
assim, nem preciso explicar...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Qualquer
discussão minimamente séria sobre política deveria partir de premissas
correspondentes a dados objetivos da realidade. Brasil, 2016, é um país ainda
extremamente desigual, seja na renda seja nas oportunidades; a qualidade e o
desenvolvimento dos sistemas de saúde e de educação ainda estão longe do que
seria aceitável para um país rico como o nosso; o Estado brasileiro é
financiado, em sua maior parte, pela classe trabalhadora (sim, eu e você) seja
através dos tributos que incidem no consumo, seja na tributação da renda do
proletariado (os grandes capitais são relativamente pouco taxados, assim como
as grandes fortunas e heranças); o sistema judiciário, apesar das recentes
melhorias, ainda é precário, de modo que não responde de maneira satisfatória
ao universo de demandas típicas de uma sociedade complexa como a nossa; temos
um sistema de segurança pública dos mais violentos do mundo, sendo frequentes
as chamadas execuções extrajudiciais, abuso de poder, tortura, participação de
policiais em redes de criminalidade organizada etc. O legislativo federal é
altamente dispendioso e a atual composição é considerada por analistas sérios a
pior da história. Infelizmente, a maior parte das pessoas simplesmente desconhece
tais dados e aceita facilmente a opinião do senso comum. Não é raro
encontrarmos pessoas com nível superior (professores, médicos, advogados...)
emitindo opiniões que parecem referir-se a sociedades totalmente diferentes da
nossa, ou seja, partem de premissas absolutamente distintas das correspondentes
a nossa realidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Tendo
por base essas premissas, qualquer pretensão de que o Brasil avance tanto
enquanto sociedade (com mais qualidade de vida, mais justa e coesa) tanto
enquanto economia (melhoria da renda, maior geração de empregos etc), não
poderia abrir mão das seguintes reformas, as quais consistem em, grosso modo:
i) elevar a tributação sobre as classes mais abastadas (tanto na criação do imposto sobre grandes
fortunas quanto no aumento da alíquota sobre o lucro líquido das grandes
empresas, assim como a elevação da tributação sobre grandes heranças) e, ao
mesmo tempo, reduzi-la sobre a classe proletária, de modo a aumentar o poder de
compra da classe assalariada, o que teria evidente impacto positivo na
economia; ii) uma vez financiando-se o Estado majoritariamente dos grandes
capitais e fortunas, haverá a possibilidade de redução gradual da taxa de juros
oficial, o que teria o efeito direto de reduzir a dívida pública e o indireto
de estimular investimentos em produção, desencentivando o capital especulativo;
iii) reforma política visando reduzir os gastos com campanha eleitoral, a
redução das verbas parlamentares tanto na assessoria quanto nos projetos de
lei; iv) reforma administrativa no sentido de reduzir abruptamente a quantidade
de cargos em comissão e, na medida do possível, ocupá-los por servidores
concursados; iv) redução dos subsídios para a agricultura comercial e a
elevação dos mesmos para a agricultura familiar (para que menos Caiados da vida
mamem no Estado, entenda-se); v) aumentar os investimentos públicos em
educação, notadamente visando a formação de bem preparados professores do
ensino básico, estimulando a opção pela carreira através de melhorias salarias
e bons planos de carreira, bem como investir de maneira crescente em pesquisas
científicas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> É
claro que escrever sobre tais reformas é muito tranquilo e fácil. Não sou tão
idiota a ponta de desconhecer o quão difícil será implementar mesmo uma parte
ínfima do que citei, assim como o tempo que é necessário para a concretização
das mesmas, ainda mais sabendo o grau de ignorância do povo e a evidente
ausência de qualquer interesse das classes dirigentes na perda de seus
privilégios. Contudo, o caminho é esse, e, meninos da direita, gostem ou não,
foi o trilhado pelas nações mais avançadas do mundo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> É
comum presenciarmos professores, médicos, advogados, engenheiros manifestando
opiniões do tipo "brasileiro é vagabundo e o bolsa família o deixa ainda
mais". Você sente uma espécie de náusea e tenta argumentar. Explica para a
pessoa que sociedades avançadas possuem políticas de distribuição de renda
semelhantes, e, em geral, ainda mais abrangentes. Também rola de escreverem que
o Estado tem que cortar gastos, que deve encolher, para que a economia
alavanque. Aí você argumenta que as principais economias do mundo contaram e
contam com efetiva atuação do Estado seja no investimento em infraestrutura
seja no investimento maciço em pesquisa tecnológica e em educação, e que para
isso é necessário tributar. Chegando na tributação, se você ainda tem
paciência, tentará fazer o sujeito perceber que o problema está na fonte da
tributação, ou seja, em quem está bancando o Estado. Nesse ponto, o tipo
simplesmente ignorará o que você argumentou, e dirá que jamais será um
vermelhinho e aqui chegamos na "esquerdofobia".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> A
esquerdofobia brasileira é algo bastante interessante. O Lula, na sua sabedoria
pragmática, evitava, em seus discursos, citar a palavra "esquerda"
e/ou "socialismo". Habilmente, ele se referia a "um governo
social". Esse cuidado do ex-presidente tem toda a razão de ser. O
brasileiro foi doutrinado a repudiar a esquerda e o Lula sabe disso. Esse
processo de doutrinação tem a mesma raiz de outras crenças que acabaram por
fazer parte do nosso senso comum, tais como a ideia de que não existe racismo
no Brasil, a crença de que o brasileiro é um povo afável, amoroso e pacífico, a
ideia de que todo aquele que se esforçar "vencerá" na vida, que
integrantes de movimentos sociais são vagabundos e marginais, que o fumante de
maconha é um ser pernicioso para a sociedade, dentre outras pérolas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Boa
parte dos esquerdofóbicos brasileiros são pertencentes à classe proletária, a
maior prejudicada com as políticas neoliberais ou de direita, como queiram.
Isso acontece justamente porque tais pessoas simplesmente repetem o senso
comum, aquilo que ouviram desde a tenra idade e continuam a ouvir na televisão.
E, onde impera esse senso comum, o bom senso passa longe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> O
movimento pelo impeachment, que se consubstancia efetivamente num golpe
parlamentar, afinal não houve propriamente crime de responsabilidade da
presidente, é tão covarde e hipócrita que se vende ao povo como "luta
contra a corrupção". Uma vez no poder, a direita faz cara de piedade e,
num português com cuidada correção gramatical, diz: "sacrifícios serão
necessários, mas o resultado de tais sacrifícios será a saída da crise com a
retomada do crescimento da nossa economia". É tragicômico pensar no Zé
Povinho, que ganha 2 mil por mês, curtir essas múmias da direita, não se dando
conta de que os sacrifícios incidirão somente sobre os coitados como ele, e que
os ricaços permancerão ostentando suas fortunas e seus privilégios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> As
elites ou classes proprietárias, como queiram, defendem a política direitista
na medida em que tais políticas as beneficiam diretamente. Apesar de já
riquíssimos e sobrecarregados de privilégios creditícios e fiscais, os caras
querem mais. Vá lá querer mais se o brasileiro médio vivesse bem, se nosso país
não fosse tão marcado por severas injustiças sociais, mas não é o caso. Os
convictos direitistas pertencentes às elites sabem o quão desigual é esse país
e, ainda assim, não querem abrir mão de nada e não se comprazem com o mar de
sofrimento alheio que provocam. Aqui tem-se um caso de direitismo consciente,
por falta de caráter, oportunismo e canalhice. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Já
o pobre, pense naquele professor de exatas da educação básica, no técnico
contabilista que enche a boca pra falar mal da esquerda e baba o ovo da
pirralhada do mbl, não pode ser rotulado como um canalha. Até poderia ser de
sadomasoquista, caso soubesse verdadeiramente o que está defendendo. Contudo,
como ele não sabe a fundo do que se trata, revela-se ignorante em política,
história, sociologia, o que defende é apenas a reprodução do senso comum, é um
direitista não por oportunismo ou falta de caráter, mas por falta de
conhecimento. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 115%; margin-bottom: 10.0pt; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-justify: inter-ideograph;">
<span lang="pt" style="line-height: 115%;"><span style="font-family: "helvetica neue" , "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> Assim,
chegamos a uma interessante e derradeira conclusão, que o BOM SENSO nos permite:
NO BRASIL, SE VOCÊ É DE DIREITA, DAS DUAS UMA: OU VOCÊ É UM IGNORANTE, OU VOCÊ
É UM CANALHA. </span><span style="font-size: 14pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-54054991610840615412016-06-18T22:27:00.002-07:002016-06-19T10:43:27.377-07:00PAPO DE BAR<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
"Ciência sociais? Éeee, fazer uma faculdade pra aprender papo de bar, é isso?"</div>
<div style="text-align: right;">
Meu professor de Química do Ensino Médio quando ouviu minha resposta a sua pergunta sobre que carreira eu pretendia.</div>
<br />
<span style="font-size: large;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> <i>A noite não estava exatamente ruim, até tava um clima agradável. Era quarta-feira, mas valia a pena tentar mais uma vez, alguma coisa, algum porquê, o que quer que fosse. O que exatamente? não se sabia e nunca se saberia. O dia que fosse sabido, a vida deixaria de existir em oposição e em consequência à morte, haveria somente o nada, ou seja, o mundo todo se tornaria uma série do Netflix; não haveria mais noites a serem desfrutadas e/ou purgadas, apenas caras assertivas e enredos pobres e previsíveis, porém viciantes - era nisso que Henrique pensava</i>. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Traga uma breja...pode ser Antarctica mesmo...obrigado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- E aí, Mano? Achou que eu não vinha mais, né?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Achei que você tivesse se perdido por aí...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Tava enrolado, demorou pra eu sair...rapaz, até que tem bastante gente nesse bar, hein? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É, tem mesmo, acho que ninguém mais aguentava ficar em casa.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Pois é, mano, isso aí tava tenso. Cara, parece que no frio a galera enlouquece de um jeito diferente, sabe? É meio devagar, mas de uma maneira mais difícil de vencer, de se livrar...tá cheio de nego se matando...ou pirando de vez. Lá no meu prédio ouço uns relatos assim. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Pode crer. No fundo a gente não passa de bicho e precisamos de Sol, de claridade natural, tá ligado? Essa porra de vida dentro de escritório e com a fuça na tela de computador tá arrebentando com a humanidade, e vou te falar, que arrebente mesmo! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Hahahaha! Que misantropia é essa, rapá? Não era você o humanista? Não to te reconhecendo, hahahah!!!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Mesmo os mais humanistas tem seus dias de incerteza. Cê tem visto o facebook? Tem lido os comentários feitos nos artigos do Sakamoto? do Safatle? Bicho, a galera tá extremamente boçal, mano, não sei de onde surge tanta burrice.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Pode crer, não é fácil amar a humanidade desse jeito. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"> <i>Uma linda ruiva senta-se numa mesa ao lado.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Desse jeito é muito fácil, cara, hahahahha!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Sim, facílimo, mas experimente conversar com ela, aí a coisa pode ser um pouco mais complicada.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Conversar? Eu lá ia pensar em conversar? Hahahaha! Eu a amo!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Tá com jeito de ter bebido algumas antes, hein? Tá romanticão pra caraio!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Tô, cara, cê tá ligado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Meu, mas mudando de assunto, você tem acompanhado essa parada do impeachment? Eu sei que tá no Senado, montaram uma Comissão só com cuzeiro da direita e tal, mas e aí, como anda essa porra?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Pô, mano, ainda hoje tava assistindo na TV Senado os trabalhos, como eles chamam. Uma bizarrice atrás da outra, cara, deprimente. Como você falou, a merda já começou na eleição do presidente e do relator da Comissão, o coxinha cupinxa do Aécio como relator, e um antigão do PMDB de presidente. Porra, todo mundo sabe que o PSDB e o PMDB querem porque querem o impeachemnt. Fora isso, o Cardozo requereu a juntada de documentos dentre os quais as escutas, aquela do Jucá e uma outra lá do Sarney, que deixam claro a existência do golpe. Aquele papo de trancar a lavo jato porque ela já havia chegado no ponto desejado, e impedir o prosseguimento para que não houvesse risco de atingi-los, cê ouviu dizer, né? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Sei, e o que mais?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Bom, mas aí o Eduardo Cardozo requereu, também, que se fizesse uma auditoria internacional, sabe? O argumento dele foi o de que o mero parecer do TCU era insuficiente e um orgão internacional teria a necessária isenção. Que ce acha que a Presidência da Comissão do Impeachment decidiu? Nego! Por essas e por outras, o Cardozo disse que apesar de poder usar da palavra, não estava podendo exercer o direito de defesa. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Mas, Henrique, as escutas não fugiriam ao objeto do impeachment?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Então, Carlos, foi esse o argumento para negar a juntada delas, mas não é correto, eu acho. Veja bem, o conteúdo das escutas remete diretamente ao impeachment.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Hahaha, eu sei, só quero fazer você desenvolver os argumentos; eu também acho isso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Eu percebi, mas é bom praticar assim, estilo dialética, tá ligado, hahaha!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">"O BRASIL SERIA MUITO MAIS DESENVOLVIDO SE TIVESSE SIDO COLONIZADO POR HOLANDESES"</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Mano, ouviu essa?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- O quê?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- O babacão na mesa da ruiva...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Que que tem? </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- O cara mandando aquele papo batidaço dos holandeses e achando que tá abafando...aquela conversa de que se fossem os holandeses os colonizadores do Brasil nós viveríamos hoje num país desenvolvido...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Hahaha, cara, eu sempre escuto isso, em todo o lugar. Foda, mano! Mas tá com jeito de que ele vai pegar a gata, ela deve ter curtido o papinho dele...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Mas voltando naquela conversa do impeachment...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Hum.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- E se o Senado condenar a Dilma? Mesmo sem respeitar o direito de defesa da maneira como vc tava dizendo, o que pode ser feito?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Cara, disque há uma alternativa que é mover uma ação no STF argumentando que o julgamento é nulo por inobservância do direito à defesa e, subsidiariamente ,a absolvição por se tratar de um julgamento meramente político, sem fundamento jurídico.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Ah, vc diz isso porque é aquela história, né, o julgamento do impeachment deve ser político e jurídico, ao mesmo tempo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Exatamente.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Só, entendi. Mas, cara, vc falou de anular o processo por falta de defesa e tal...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Sim.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Tava pensando aqui, imagine uma outra situação. Pense num cara que realmente é culpado, escrotão...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Você quer se referir a um pedófilo, estuprador...?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">-É, tipo uma merda dessa, um caso terrível desses. E se houvesse espaço pra uma anulação da condenação seja porque faltou defesa ou qualquer outro erro lá...que você acha?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Cara, pela lei o Ministério Público poderia mover nova ação penal, mas haveria o risco da prescrição, sabe?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Sei, mas você acha isso justo?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Hahahah, lá vem você querendo me provocar...hahahah....tá na pegada do Abujamra hoje...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Hahaha, é, to mesmo, mas me diga, acha justo?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Meu, você sabe, justiça é uma ideia equívoca...depende muito do enfoque que você queira dar. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Você tá fugindo, to percebendo...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Hahahah, não é isso, mano. O que acontece é que falar de justiça pode ser querer comer a própria bunda, sabe, uma coisa non sense.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Tipo comer cu de gato?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Sei, mas não vai sair nada?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Se você tiver paciência, sai, hahahah, mas acho que você vai rachar o bico da minha cara.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Corre-se o risco, mas sei que você não liga pra isso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É, não ligo mesmo. Enquanto a gente presencia um golpe as pernas daquela ruiva não deixam de me enfeitiçar, sei lá, a vida é bonita, apesar de tudo. Mas vou te falar, Carlos, Direito e Justiça são coisas que nada tem a ver. É como disse o Lao-Tsé, "onde nasce o Direito, morre a Justiça", acho que foi assim que ele disse. Eu demorei pra entender isso, mas hoje acho que entendo. Na verdade a justiça é algo espontâneo, sabe, ela acontece não por obrigação, medo, ameaça, as pessoas simplesmente reparam o mal causado de forma espontânea, sem querer procurar motivo racional pra isso.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Caramba, mano, que parada louca é essa, é meio hippie isso aí, né, hahaha!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É, pode ser, e eu acho os hippies muito sábios, pra falar a verdade. Eles tão cheios de merda na barriga, como todo o mundo, mas têm a alma limpa, sabe?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Mas, cara, cê não disse o que é Justiça pra você, tá enrolando!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Ok, Carlos, vou mandar, mas você vai rir, bicho, eu to ligado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Manda.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Justiça é amor.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- ...cara, bonito, hein?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Mas por que você diz isso? De onde tirou?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Veja bem, justiça é espontânea, não provocada. Se provocada, forçada, é Direito. Torna-se Direito por causa da sanção, da coerção, saca? O que leva a justiça acontecer, dessa maneira espontânea, é o amor, cara, o que nos liga enquanto seres humanos, o que dá sentido a nossa vida gregária, sabe?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É, cara, acho que é isso mesmo...cê dixavou legal...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">PÁAAA - FILHAAA DA PUTAAAA!!! DESGRAÇADOOOO!!!!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Só uma batidinha de leve e o cara faz um escândalo desse aí, que otário da porra.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É muito amor mesmo...hahahaha...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Serviu pra ilustrar tua definição, hahaha...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É, Henrique, o entusiasta dos batavos se deu bem...olha lá...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Que parada! Fala um monte de merda, mas tá dando uns pegas na mina mais gata do rolê...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Mas, cara, você tem razão naquela parada que vc disse, mano, sobre a justiça e coisa e tal.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Talvez eu tenha, mas é só o que eu tenho, hahahahah....velho, acho que estamos ficando meio loucos, sabe, diletantes pra cacete!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- É, quem fala "diletante" só pode ser "diletante". Eu acho que vou nessa, amanhã tem trampo, foda!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Pode crer, beleza, eu vou daqui a pouco. Pague umas três e deixe o resto comigo.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;">- Ok, figura, é "nóis"!</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: large;"><i>Enquanto Carlos tomava seu rumo, Henrique se levantava pra mijar. Caminhando até o banheiro, pensou que às vezes saber demais é angustiante, e que esse pensamento já era batido pra porra, nada original. Na volta, trocou olhares com uma garota que cruzou, que se dirigia ao banheiro das mulheres. Sentou-se junto ao balcão, esperando que ela saísse. Deu certo. Conversaram e o papo foi bom. Foram pra casa dele. Riram, transaram e dormiram. Enquanto a gente ser esse bicho angustiado, assustado, inconveniente e absurdo pra caralho, só o amor nos salvará, acompanhado de ovo cozido servido no desjejum. Esqueça os colonizadores holandeses, eles não nos salvarão.</i></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-28775641563109861622016-02-21T17:07:00.001-08:002016-02-21T20:37:12.140-08:00SOBRE UM BÊBADO, CRIANÇAS E O SOFRIMENTO ALHEIO <div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "baskerville old face" , "serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Naquele
tempo, a molecada vivia muito mais solta do que hoje. Esse lugar comum ilustra
bem o que era minha vizinhança no início dos anos noventa. Claro que já
existiam vídeo-games e pais super-protetores, mas tanto uns quanto outros não
se comparavam à insanidade que se vê atualmente. Mesmo o mais nerd dos moleques
passava boa parte do seu tempo na rua, de modo que toda aquela criançada
convivia junto e crescia junto, conhecendo-se mutuamente através de conflitos ou
de amizades – quase sempre uma mistura
de ambos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "baskerville old face" , "serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nunca
um dia brincando na rua era igual ao outro. Seja porque as crianças não eram as
mesmas, seja porque alguma trazia uma novidade, ou porque eventos aconteciam.
E, para nós, eventos significavam algum animal diferente surgir do nada, algum
novo guarda na praça, uma briga nova entre adultos, uma chuva torrencial, uma
ventania...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "baskerville old face" , "serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">As
férias de verão eram absolutamente riquíssimas nesses eventos. Como a gente
ficava até uma ou duas da manhã na rua, a chance de coisas loucas acontecerem
aumentava. Foi numa noite dessas que um bêbado entrou com sua bicicleta bem no
meio de onde brincávamos de mãe da rua. A figura parecia feliz em meio a toda
aquela criançada. Abria um sorriso desdentado quase comovente. Não me recordo quem
de nós atendeu ao seu primeiro chamado. Provavelmente deve ter sido o mais velho,
Fabiano, se não me falha a memória, mas isso também não importa, o que importa
é que o cachaceiro pediu que fôssemos até nossas casas ver se tinha alguma
bebida pra ele. No instante em que ele disse isso, nós nos olhamos e quase por
comunicação telepática diabólica, já sabíamos o que iríamos fazer. Nós dissemos
ao bebum “espere aqui, nós já trazemos algo para o senhor beber”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "baskerville old face" , "serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">A
minha casa era ao lado da rua em que brincávamos, de sorte que foi nela que
entramos. Chegamos até a cozinha pelos fundos e fizemos um maravilhoso drink do
mal. Um de nós mijou no copo; outro procurava o desinfetante; eu peguei o litro
de cachaça; o mais velho arrancava pelos
do saco...Nós todos chorávamos de rir, estávamos quase em transe...mas contemos
o riso quando voltamos à rua com o “coquetel”. Quando o velho cachaceiro viu o
copo cheio, arregalou os olhos e disse “Deus é pai, que maravilha”. Pegou o
copo e o virou numa talagada só, incrível! Nós ficamos tão boquiabertos que
sequer foi necessário conter o riso. O velho fez uma expressão de ardência, mas
durou pouco. Logo abriu aquele sorriso quase comovente. Montou na sua bicicleta
e assim que pedalou se ouvia um som engraçado. A molecada havia grudado um copo vazio de água mineral entre os freios e o pneu, de modo que a cada pedalada saía um ruído
agudo parecido com motor de fórmula 1. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "baskerville old face" , "serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">O bebum já havia dobrado a esquina, quando meu irmão e eu decidimos segui-lo. Não
consigo me recordar o que me motivou a fazê-lo, o caso é que montamos em nossas
bikes e, chorando de rir, fomos atrás
dele, sempre tentando fazer com que não nos percebesse. Seguimos o cachaceiro
por dois ou três bairros, e chegou uma hora que ele parecia estar muito tonto,
e que a qualquer momento se esborracharia no asfalto. Incrivelmente, o velho se
mantinha na bicicleta, até que chegou numa curva já num bairro bem afastado e
ao invés de virar o guidão ele simplesmente seguiu reto. A figura passou direto
e mergulhou num matagal de um terreno baldio, desaparecendo. Nós chegamos até o
terreno e, ao empurrarmos parte do mato, deu pra ver que se tratava de um
barranco, mas, por estar noite, não conseguimos enxergar o bebum ou sua
bicicleta. Nós rimos e voltamos pra casa. No caminho, me lembro de nossa
euforia diminuir gradativamente. Quando chegamos de volta à nossa rua, a
molecada queria saber o que havia acontecido ao velho, àquela altura apelidado
de Motor Antarctica ou algo assim. Nós contamos que ele havia passado direto e
sumido no mato. Toda a galera caiu na risada. E meu irmão e eu voltamos a rir
euforicamente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "baskerville old face" , "serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Quando
fui dormir, já umas duas e meia da madrugada, não conseguia pegar no sono. Uma
profunda tristeza tomou conta de mim e eu não parava de pensar naquele velho
banguela. Senti muita pena dele e me lembro de ter chorado. Às lágrimas, me
lembro de ter pensado sobre o porquê de algo tão engraçado ao mesmo tempo poder
ser tão triste...Com oito anos de idade muita coisa me era inalcançável, e com
certeza ainda é, mas aquela sensação de angústia e culpa me perseguiria sempre
que eu percebesse que por trás do meu sorriso, prazer, deleite, estivesse algum
sofrimento...Hoje, adulto, talvez seja essa experiência, ainda na infância, que me permitiu perceber, com certa facilidade, que em nosso mundo vivemos, em escala milhões de vezes aumentada e
de maneira cotidiana, aquele evento com o velho; ou seja, um modo de se viver que
provoca inúmeros deleites e euforias através de um mar de sofrimento alheio. <o:p></o:p></span></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-11070547532475040342015-11-22T14:52:00.000-08:002015-11-22T14:59:50.454-08:00CARTOLA E CHARLES BUKOWSKI TOMAVAM UMA NO BOTEQUIM DA ESQUINA<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Os últimos dias não têm sido lá muito
animadores. É tanta bosta acontecendo e sendo noticiada, que a galera tá se
pegando em discussões sobre que merda fede mais. O que, evidentemente, não
contribui pra porra nenhuma, mas as pessoas tomam partido e aí já viu, né? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Cerca da quinta parte do Estado de
Minas Gerais pode ficar mergulhado em lama tóxica e mais um bocado do Espírito
Santo (tão noticiando que mais barragens podem estourar – imagine só o nível da
merda em se considerando as possíveis cagadas ainda não admitidas, e como a
gente bem sabe, sempre há cagadas não admitidas) isso tudo em função de um puta
CRIME AMBlENTAL, que eufemisticamente a nossa escrota imprensa insiste em dar o
nome de “acidente” e/ou “tragédia”. Simplesmente, as podres de ricas das
mineradoras, responsáveis pela <i>cagada</i>,
pouco estavam se <i>cagando</i> pra
possibilidade de as barragens se romperem. A única preocupação delas era
garantir os lucros dos acionistas, como todo o ser humano minimamente lúcido
sabe. O governo, por sua vez, tanto nos Municípios, no Estado e na União, foi
conivente; aliás, como sempre é com as grandes mineradoras. O amor tórrido
entre o Estado brasileiro e as grandes corporações que representam dinheiro
rápido é absolutamente inquestionável. Nossos políticos não sentem tesão pelo “a
longo prazo”, pelo “desenvolvimento social”; o que lhes excita é a grana
correndo nos cofres, farta e imediata.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Em França, como dizem os pernósticos,
o bicho pegou também. Mais de uma centena foi massacrada pelos maníacos do
chamado Estado Islâmico - o Califado que pretende dominar todo o mundo árabe e
inclusive as regiões que na IDADE MÉDIA fizeram parte do Império Islâmico (os
portugueses e espanhóis que fiquem espertos...) e que declarou guerra ao
Ocidente. A imagem de uma tragédia grega (ainda não escrita) em que a mãe é
odiada e assassinada pelo próprio filho ilustra o porquê do Estado Islâmico. O
Ocidente (que também somos nós, pois enquanto brasileiros, somos ocidentais,
ainda que de perifa, ok?), na figura do mais ilustre dos seus representantes,
ninguém mais ninguém menos que os Estados Unidos da América, É A MÃE DESSE
MOVIMENTO TÃO BOÇAL. Ao contrário do que a molecada fascistinha anda postando
no facebook, as atrocidades cometidas por esses caras não estão radicadas no
Alcorão, simplesmente não decorre do islamismo. Sei que a maior parte das
pessoas não é capaz de interpretar as coisas de um modo não hollywoodiano
(décadas de lixo cultural embotaram suas mentes), ou seja, querem demonizar um
grupo, e divinizar outro. Se os muçulmanos fossem tão ruins assim como dizem,
rapaziada, possivelmente nem eu nem você existiria. Vou me explicar melhor. Os árabes
ocuparam o que hoje é a Espanha e Portugal, certo? Certo. Pois bem, sei que
você não gosta dessa conversa, mas agüente firme, no final vai lhe fazer bem. Me
diga uma coisa, durante essa ocupação árabe você já ouviu falar de imposição da
religião muçulmana em cima dos cristãos? De terem arrancado a cabeça dos <i>infiéis</i>? Se você ouviu alguma coisa
assim, sinto lhe dizer, você não sabe PORRA NENHUMA de história! Os árabes respeitavam
as religiões diversas e eram bem menos hostis que os invasores romanos, meu
caro (você se recorda do que os nossos antepassados “civilizadíssimos” romanos
aprontaram com os judeus? E com a galera de Cartago...?). O principal interesse
deles era comercial. E, assim como os romanos, foram os responsáveis pelo
desenvolvimento cultural das regiões em que ocuparam. Inclusive, há quem
sustente que as grandes navegações ibéricas só ocorreram a partir dali
justamente por conta dos avanços tecnológicos trazidos pelos mouros (esses
barbudos que você não gosta) Isso sem contar que foi graças aos árabes (
narigudos, de olheiras, pele trigueira, cabelos negros...) que a herança
cultural grega chegou até nós. Se não acredita, pergunte ao seu professor de
história.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Na África, “por incrível que pareça”,
o bicho continua pegando. As contínuas e insanas lutas tribais (muito bem
armadas pelas potências ocidentais, frise-se) têm martirizado o povo africano e
a notícia de centenas e centenas de mortes tem sido freqüente. Tretas na
Nigéria, na Líbia, Sudão...No Oriente Médio, uma guerra civil que não tem fim. O resultado disso são milhões de
refugiados, que simplesmente lugar nenhum do mundo quer por perto, por
vários motivos, inclusive os mais mesquinhos que você pode imaginar. Os
autodeclarados cristãos, inclusive, se esquecem dos ensinamentos bíblicos e se
prendem à conversa xenófoba dos lunáticos apocalípticos que acabam ganhando
platéia em tempos difíceis. É foda!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O mundo é um moinho. Cass, a garota
mais linda da cidade, simplesmente não consegue suportá-lo. Não que seja um
problema dela. O problema está no mundo. É o mundo que não a aceita como ela é.
Ele até a quer, mas de um jeito que Cass não consegue ser. Ela prefere
desaparecer a ter que ser como o Espremedor quer. A mestiça de índios cherokee
e irlandeses - eu a imagino assim -,
incapaz de fingir sentimentos, de recolher o choro ou de esconder sua
felicidade, não dava a mínima para as notícias dos outros continentes. Não que
ela não sofresse pelos outros; muito pelo contrário. Ela só não conseguia
fingir interesse por algo que não pertencia à verdade dela, ao mundo dela. Cass
estava inteira em cada situação, em cada alegria, em cada dor; ela intuía que
aqueles sujeitos engomados que comentavam os assuntos na TV eram mortos vivos,
incapazes de realmente sentir algo, e que tudo aquilo era uma puta falcatrua,
uma baita picaretagem. Para Cass, eles não passavam de abutres. A linda mestiça
ajudava as pessoas pobres que conhecia, e nunca se gabou disso; não por temer
passar por orgulhosa ou arrogante, mas porque sabia que tudo o que pudesse
fazer por essas pessoas não seria o suficiente para salvá-las. Cass sentia toda
a dor do mundo na figura de um só mendigo, ou de um só bêbado derrotado na
calçada do bar. Ela vibrava nas ondas do ambiente. Ela era toda empatia. Um
dia, Cass desistiu, antes que o mundo a moesse.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O editor alemão do Bukowski o
convidou para passar uns dias no Rio de Janeiro. Sigfried, o editor, há muito
conhecia o verão carioca e estava em falta com o velho Buk. Teria sido
impossível convencê-lo se não fosse a caipirinha (Sigfried o levou para um bar,
em L.A., que servia o drink, e disse ao Hank que no Brasil era ainda melhor) e
a promessa de editar seus livros no Brasil e apresentar belíssimas cariocas.
Charles Bukowski sempre ouvira dizer sobre a beleza das brasileiras e perguntou
e reperguntou a Sigfried sobre esse mito. O editor, como bom alemão que era,
disse que não havia em lugar nenhum do mundo mulher mais bonita. E, empolgado,
disse a Bukowski que não só as mulheres, mas a música carioca era a melhor do
mundo. O velho Buk não respondeu; pensou que o editor estivesse tão bêbado que
já estava no grau de falar bosta. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Era fevereiro. Rio 40 graus. Hank e o editor alemão tomavam uns tragos num
botequim. Sigfried insistia num papo de que faria uma surpresa ao velho Buk.
Hank já estava na lona, não queria mais conhecer mulheres. Havia tentando umas,
levou uns tapas, broxou, foi foda. Estava com preguiça de começar tudo aquilo
de novo. E o calor carioca era surreal. Mas Sigfried lhe disse que não era uma
outra garota, mas sim um poeta. Logicamente, o Bukowski ficou mais puto ainda: “porra,
Sig, você sabe que eu odeio poetas!” Sigfried riu, e disse que era um poeta
brasileiro, o melhor letrista e sambista que o mundo já teve. Nessa altura,
Bukowski já havia conhecido o samba-canção, o choro e a bossa nova. Tinha ficado
com o samba canção e a caipirinha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">E não é que ninguém mais ninguém
menos que Cartola apareceu no botequim? O alemão abriu um sorriso que o Buk
jamais havia visto naquela fuça tão sisuda. Em português, insistiu para que o
homem se aproximasse. Fez as honras. Incrivelmente, Charles Bukowski logo
simpatizou com Cartola. Em geral, se dava bem com homens negros, a vida lhe
havia ensinado a sabedoria que essa gente tem. No momento em que botou os olhos
no Cartola calculou que aquela cara toda detonada, aquele corpo magro, era pura
poesia. Via um homem feio, mas que ao mesmo tempo era incrivelmente belo, como
uma divindade. Talvez a bebida tivesse ajudado. O caso é que os três beberam e
riram muito. O astuto Sigfried, o editor, habilmente fazia a tradução.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="text-indent: 35.4pt;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">O mundo, esse gigante moinho, não
parou de moer e estourar enquanto os três estavam juntos. Claro que não. A
jovem mulata teve seus sonhos triturados. Cass havia cortado, pela última vez,
seu belo pescoço igualmente mestiço. Mas havia a possibilidade, o porvir. Se
existe solução para todo o sofrimento do mundo ela mora exatamente no mesmo
lugar de onde surgem todos esses sofrimentos, como soro pra veneno de cobra:
está na nossa diferença. Se você tem tanto orgulho daquilo que você é (negro,
branco, índio, gay, gigolô, muçulmano, judeu, traveco...) saiba, querido, que
você só é porque outro não é, ou seja, num mundo em que todos se tornassem
exatamente iguais, as suas singularidades desapareceriam, VOCÊ DESAPARECERIA.
Se você ainda não entendeu, agora vai: o que seria do Corinthians sem o
Palmeiras? Portanto, porra, se você precisa de motivos para amar, ame as outras
pessoas porque elas são condição pra você ser o que você é. Cass não precisava
de motivos. A jovem mulata também não. Quem sabe um dia você também não
precisará? Quem sabe...</span><o:p></o:p></span></div>
</div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-73514675496337608242015-07-12T14:28:00.002-07:002015-07-12T14:31:58.846-07:00HETERODOXIA<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Eu
me sentia um estúpido completo. Você tinha toda a sorte e toda a razão. Existia
uma queda de braço imaginária e nela você ganhava de mim de lavada. A minha
pretensão de saber de alguma coisa se foi. Seus olhos, apesar das olheiras,
estavam mais vivos e brilhantes do que nunca. Seu sorriso, ainda que mais
amarelado, permanecia lindo. Pode ser que tenha sido sem intenção, mas você me
derrubou. As minhas palavras, que antes as havia ensaiado em minha cabeça, não
surgiram quando delas precisei, e talvez mesmo que aparecessem, não iriam
servir para evitar nada. Meu corpo falou por mim. Baixei os olhos, pintei de
cinza minha expressão, meus ombros se encolheram. Você pôde perceber, mais uma
vez, que havia vencido, e isso fez seus olhos ainda mais brilhantes, e seu
sorriso mais belo. Quando me despedi de você, o que já havia de quebrado dentro
de mim passou a me perfurar, vagarosa e dolorosamente. Tentei me consolar
pensando que não podia ser de outra maneira, afinal eu havia sido derrotado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Nosso
encontro ficou na minha lembrança como um doce pesadelo. Nossa história ganhou
mais esse estranho capítulo. Me senti culpado por me permitir sofrer daquela
maneira, ainda que soubesse não haver outra solução. Você continuará com o seu
sorriso despreocupado, e eu possivelmente enlouquecerei aos poucos, pagando por
minha heterodoxia. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Baskerville Old Face","serif"; font-size: 14.0pt; line-height: 115%;">Haverá
um dia em que eu montarei em você como um lobo faminto e você me desejará. Mas,
nesse instante, não será mais amor o que eu sentirei por você. Como o amor nos
afastou, talvez a falta dele nos atraia.<o:p></o:p></span></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-53091609955252003852015-06-30T09:54:00.000-07:002015-06-30T09:54:17.135-07:00FATALIDADE<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">“Silêncio é
a porta do céu,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">No nada há a
verdadeira sabedoria”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ele pensava,
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E naquele
mesmo instante<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">O cavalo monta
na égua<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Caminhões
vomitam diesel pela rodovia<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;"><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;">A vida pulsa
violentamente na forma de roncos de motores e de </span><span style="font-size: 18.6666660308838px; line-height: 21.4666652679443px;">relinchos</span><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"> bestiais<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Enquanto as
bactérias, insistentemente, faziam, dentro dele, o trabalho sujo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E tudo seria
tão especial...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Tudo seria
tão especial se não fosse mera fatalidade.</span><o:p></o:p></span></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-65419978401587388792015-04-26T18:39:00.000-07:002015-04-26T19:49:30.055-07:00A MEGALOMANIA ALHEIA<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia lhe fez acreditar que as coisas são o
que devem ser</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ao não permitir que florescessem outras maneiras de se viver</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Lhe fez acreditar que a verdade está nos berros mais altos</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E que há sempre quem grite por você</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ao fazê-lo concordar que, por natureza, você é mudo</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia roubou sua saúde</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Fazendo-o crer que fast-food é comida de gente</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Ao lhe mostrar que cachorro não bebe refrigerante</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia roubou o seu sono</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Fazendo-lhe constantemente apático e cansado </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Seja por meio de
britadeiras, buzinas, motores</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Seja através do bom e velho sentimento de culpa (o mais
estrondoso barulho)</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia sugou de você todo o seu entusiasmo</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E, no lugar, lhe encheu de medo</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Quando lhe roubou o espaço público e lhe deu a TV</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia lhe convenceu de que o mundo não é para
você</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Que sua existência é absolutamente irrelevante</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E que, por caridade, você é tolerado</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Em contrapartida a essa benesse, você deve muito a eles</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E será sempre lembrado disso pela polícia, as leis, e por
aqueles sujeitos-bem-alimentados-que falam-na-TV</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia lhe
fez idolatrar Ayrton Senna, Edson Arantes do Nascimento e William Bonner</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E não se dar conta de quantas pessoas verdadeiramente
maravilhosas estão num raio de poucos metros de você, e que ídolos televisivos,
invariavelmente, não passam de idiotas</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia fez você acreditar que todos são iguais</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Fazendo-o não perceber a riqueza que há na diversidade e na
singularidade</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E que igualdade entre os homens, para os megalomaníacos, radica
no fato de tanto você quanto eu sermos capazes de consumir, e nada mais</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia lhe fez sonhar por mundos oníricos
construídos em filmes</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E não perceber as pequenas, porém incessantes, belezas que
lhe rodeia</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia pretende que sua vida siga um roteiro
predefinido</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E que você seja um ator bastante disciplinado</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Caso contrário, ela fará com que as outras pessoas lhe
marginalize, forçando-o a se render</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">A megalomania alheia fará com que você também queira ser um megalomaníaco</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">Não para que você efetivamente consiga, mas para que apenas deseje</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Trebuchet MS, sans-serif;">E o megalomaníaco desejo lhe impedirá de perceber a
realidade, mantendo a salvo a megalomania alheia.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-40866229129815028552015-03-29T10:13:00.001-07:002015-03-29T10:13:06.905-07:00A DÁDIVA E O INSTANTE<span style="font-family: inherit; font-size: large;">A vida é um(o) presente.</span>Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-31996375579480352072015-03-15T20:10:00.002-07:002015-04-26T18:44:23.117-07:00DEVEMOS MESMO QUEIMAR O RABO DA DILMA?<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
galera tá nas ruas Brasilzão a fora. Idosos, empresários, aquele policial que lhe enquadrou na semana passada, crianças, aleijados, estudantes, vagabundos, o cara que arrancou o seu siso e doeu, alunos de MMA, a(o) ex-amante do seu pai, atendentes de telemarketing, a mina que te deu um pé na bunda (e doeu também), enfim, tem muita gente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Me
pergunto se todos têm consciência do que ali fazem. Olha, pra começar, já vou
dizendo, não sou petista. Inclusive, nas últimas eleições, no 1º turno, não
votei na Dilma, votei na candidata do PSOL (e daí? Achou ruim? Vem pro pau!).
No 2º, eu votei no PT, por estado de necessidade (não preciso explicar por que
não votei no Aécio, ou preciso?). Segundo noticiado, as manifestações foram
convocadas por três grupos. Um deles quer a volta do governo militar (eles se esqueceram
de perguntar aos militares se eles têm interesse no cargo, mas... deixa pra
lá), outro quer o impeachment da Dilma, e o último quer, tcham-tcham-tcham-tcham,
o fim da corrupção (original, não?). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Não
preciso dizer que faz sentido lutar por um país menos corrupto, mas não será
botando o PSDB na cúpula do poder que conseguiremos. Se você acha que os tucanos
fariam um país menos corrupto, você é realmente digno de pena. O caso é que
toda essa gente bradando por coisas diferentes, a maioria repetindo o que ouvia
sem saber direito o que significa, soou esquizofrênico. Mas isso é coisa de
Brasil e de sua gente muito bem politizada pela nossa mídia bastante
democrática que não é controlada por um seleto grupo de conservadores...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Será
que é tão difícil perceber a manipulação que “tá no ar”? As manifestações em
oposição ao impeachment da Dilma tiveram quase nenhuma cobertura. Cinco
segundos de imagem e uma breve definição, foi o que eu vi no Jornal Nacional (eu
assisti apenas para confirmar o que imaginava que iria acontecer, e que de fato
acabou acontecendo). Por outro lado, para as manifestações de hoje, houve
plantões jornalísticos, mudança do horário do jogo e sempre os repórteres da
globo e da band dizendo: “a manifestação é pacífica”; “são milhares de pessoas”;
“contra a Dilma”. Eles repetiam isso, quase como um mantra. Mais ou menos às 19
horas deste domingo, o Ministro da Justiça convocou a imprensa para falar sobre
as manifestações. Apenas a TV Cultura exibiu o pronunciamento do cara. Por que
a Globo não transmitiu a posição do governo sobre os protestos? O tema não era
tão importante a ponto de terem ficado o dia todo cobrindo? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Também
não foi agradável ter visto aquelas pessoas batendo panela. Eu sei que esse
governo cometeu e comete erros, mas não tem como não reconhecer os méritos dele
no COMBATE À FOME, PORRA!!! Na alta cúpula do poder do país, desde João
Goulart, o governo do PT foi (ainda é, se vocês deixarem, é claro...) o único que
se preocupou com as hordas de esquálidos que se avolumavam pelos rincões do
país e periferias das nossas grandes cidades. A ONU reconheceu que o Brasil
saiu do mapa da fome no mundo, pessoal! E vocês batem panela... Isso é que é
vontade de riscar o teflon!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Alguns
já me disseram que mesmo os pobres que votaram na Dilma, os principais
beneficiários das políticas sociais dos anos de governo petista, já se
convenceram de que o ciclo do PT acabou e querem algo novo. Eu concordo com
vocês. Boa parte dessas pessoas é facilmente influenciável e não prima por uma
boa memória. Talvez alguns de seus filhos que tiveram a oportunidade de fazer
faculdade (os únicos em toda a árvore genealógica dessas famílias), graças justamente
aos “petralhas”, também tenham aderido à onda anti-Dilma. Coitados, querem ser
aceitos e abraçar a moda, mas vão se arrepender quando a meritocracia à moda
Brasileira (diga-se, elitismo) voltar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Nêgo,
você tome tento e pense por você. Não quero formar a opinião de ninguém com
isso aqui, até porque ninguém vai ler, mas quero lançar a dúvida. Eu mesmo
escrevo pra tentar compreender todo esse caldo fétido. Veja, ou melhor, note, rs,
eu sei que a Dilma tem cara de um molequinho atentado, que ela não é
articulada, simpática e fotogênica. Mas, meu querido, essa mulher dedicou a
vida dela aos outros, e ainda dedica. Você acha que pra ela é fácil ser chamada
de puta, ladra, bandida, corrupta, terrorista, escrota, todos os dias, por pessoas que
sequer se dão ao trabalho de ler mais do que o limite de caracteres do twitter (isso sendo otimista),
e se acham a elite intelectual do Brasil a ponto de querer criticar o Juca
Kfouri e o Leonardo Sakamoto?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Arial, sans-serif;"><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">Eu
também, assim como você, acho política, pelo menos da forma como aprendemos a
compreendê-la, uma RESSACA (o porre é bom, né?). Mas, não tem jeito, lá vai o politiquês: i) temos
de apoiar a REFORMA POLÍTICA (mudar as regras dos financiamentos de campanha,
da composição das maiorias (pra que ninguém, uma vez no poder, tenha que ser obrigado a fazer coligação com o PMDB - isso sim contribuirá com a diminuição das corrupções - "ah, mas ninguém é obrigado, o PT fez a coligação porque quis", tá bom, boneca, olha só: "se não coliga, não governa", esse é o mantra do nosso presidencialismo, de autoria dos peemedebistas); e ii) tributar mais as GRANDES FORTUNAS E AS GRANDES HERANÇAS
(Dilma, não tribute o consumo e a produção, cacete, tribute os ricos, tá, eu
sei, no Congresso não passa, mas tente, e diga isso em rede nacional, que o
arrocho vai ser em cima dos ricos, se não der, não deu, pelo menos você terá tentado...). Alguns de vocês vão achar que essas minhas sugestões são muito duras, que esse papo de tributar ainda mais os ricos é
conversa de socialista vagabundo, de gente que não quer empreender. Saibam que SEUS
QUERIDOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA JÁ FIZERAM TUDO ISSO HÁ UM TEMPÃO, </span><span style="line-height: 24px;">SABICHOSOS</span><span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;">!
Vocês sabem quanto é o percentual que os herdeiros norte-americanos têm de pagar
pro fisco e o quanto os ricaços pagam de impostos por lá...?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pra
concluir, NÃO TEMOS DE QUEIMAR O RABO DA DILMA, a não ser que vocês queiram a
volta dos anos noventa, o aumento da ainda absurda desigualdade social, a
privatização do que resta das empresas públicas (se é isso que você deseja,
recomendo que leia uns artigos de economistas da CEPAL, se não quiser ler, que
se foda...). O caso é que todo o mundo quer, pede, reclama, brada, mas, se
dedicar a tentar compreender esse país, já é outra jogada </span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 16px; text-indent: 47.2000007629395px;">(vamo lá, quantos de vocês leram Darcy Ribeiro e Raymundo Faoro?)</span><span style="font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;">. É mais fácil abrir essas bocarras bem
alimentadas e reclamar. Raulzito já dizia: “O PROBLEMA É TÃO FÁCIL DE PERCEBER,
É QUE GENTE, GENTE NASCEU PRA QUERER...”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-65898516143112507062015-03-06T18:25:00.000-08:002015-03-06T18:25:55.937-08:00QUE OUTRA PALAVRA PODERIA RIMAR COM DOENÇA?<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Eles forçaram a rima torta com paixão</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No instante em que, juntos, estavam selados à vida e à morte</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para até o último dia, ligados às vísceras</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O casal soropositivo havia tido uma filha</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">E, a despeito de, durante toda a gestação, a mãe abusar do
crack</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A menina nascia magnânima</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A vida se renovava mesmo diante de todas as circunstâncias
em desfavor</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">As tosses contínuas, as febres, as estranhas e inesperadas
melhoras</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não se poder ter a menor ideia sobre o modo de se estar no
dia seguinte</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">A dependência cruel, a insistência do Sol em aparecer cada
vez mais quente e brilhante</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O olhar de pena combinado com nojo vindo dos outros, de
todos os outros</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O único desejo: o de desaparecer, lentamente, no último trago,
fazendo-se virar fumaça </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sem nem saberem como, muito menos o porquê, aquela menina
estava ali, </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Fazendo-se acontecer e forçando-os a resistir, nem que fosse
por mais um dia, apenas</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Sem desculpas, nem perdões</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Apenas a realidade,</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Para todo o fim,</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em sua profunda indiferença.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-62784442175816183862014-03-11T10:43:00.000-07:002014-05-07T09:49:54.552-07:00COMFORTAVELMENTE ENTORPECIDO<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A profecia Pink
Floydiana mostrou-se correta<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Você está no
Facebook, e eu não posso lhe fazer nada<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Você está no
Facebook, e não fará nada por ninguém<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Seu sorriso
é, assim como todos os outros, insosso<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A sua
expressão é um carimbo batido e rebatido milhões de vezes<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">E eu não
posso lhe fazer nada!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">A profecia Pink
Floydiana mostrou-se correta<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">E todos
sabemos que a realidade pode acontecer lá fora, além<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas não
sabemos o porquê de não termos coragem de chegarmos até ela<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Algo ou
alguém nos prendeu, e, sinceramente, eu não posso fazer nada<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Você está no
Facebook, e não fará nada por ninguém<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 16.0pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Helvetica Neue, Arial, Helvetica, sans-serif;">Eu estou vendo
o futebol, e não farei nada por você!</span><o:p></o:p></span></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-91207158624372511472014-01-15T19:32:00.000-08:002014-01-18T09:35:51.288-08:00É CRÉDITO OU DÉBITO?<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Antônio Carlos acorda enjoado. Uma manhã que mais está para tarde. Bota
os pés no chão umas onze e quarenta e, olhando pela janela, percebe que o Sol
está a pino. Uma tranqüilidade salpicada por melancolia o acomete, o que faz a
sensação de enjôo apertar. É feriado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em dias comuns, àquele horário estaria no trabalho, o que possivelmente o
impediria de ter pensamentos confusos ou reatar lembranças perdidas, que
deveriam estar para sempre desaparecidas. Esta seria a razão pela qual a ordem
social pautada pela labuta ainda impera. Foi o que rapidamente pensou. Como
mora só, bebe o café que ele mesmo prepara. O calor o convida para uma ducha.
Sente um bem-estar passageiro. Olha-se no espelho, pensa na fatalidade do
tempo, no quanto ainda se transformará. Lembra-se de que não há nada para comer
no almoço. Terá de sair, mas não está com disposição alguma.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Umas duas da tarde, resolve sair em busca do que comer. A forte luz do
dia lhe inebria. Caminha quase sem olhar a calçada, como se instintivamente, às
cegas. Chega a pensar que se trombar com algo seria até divertido, afinal algo
aconteceria. Sabe que já houve épocas mais felizes. As pessoas lhe cruzam, ele
passa por elas, mas não as olha. Sente que também não olham para ele. A elas
ele está absolutamente indiferente. Isso lhe proporciona um estranho prazer,
que imagina ser apenas seu, e talvez o seja.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">No supermercado, a luz artificial e a necessidade de encontrar aquilo de
que precisa, o fazem abrir completamente os olhos. Por conta disso, é obrigado
a perceber as cores das pessoas, suas formas, cabelos. Os rótulos insanos de
produtos absolutamente desnecessários. O sorriso doentio dos empregados, derivados
de uma esperança infundada e desesperada de que dias melhores virão. O estabelecimento
faz Antônio Carlos se saber só, se perceber muito diferente do resto de
todo-o-mundo. O supermercado, pensa, é a Igreja dos nossos dias, o local onde a
salvação e a loucura estão amalgamadas. A Imagem de um gigantesco polvo e seus
tentáculos surge em sua mente. Como fugir dos tentáculos do NADA? Se pergunta.
Sabe, porém, que sua fuga será necessariamente solitária. A fome aperta, e ele
está num supermercado. Seu estômago ronca, e sente uma forte vontade de mijar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Decide por um pacote de macarrão e um maço de brócolis. Não se recorda se
o coletivo de brócolis é maço ou ramo, imagina até que pode ser diferente. Não
abre mão de duas cebolas e alguns tomates. Ovos e alhos já havia em casa. Ao
passar sua exuberante compra, repara na atendente do caixa: uma moça
aparentemente suburbana, ainda deslumbrada por trabalhar numa rede de
supermercados, e que com o primeiro ou talvez segundo salário, pôde dar um
jeito nos dentes e colorir os cabelos. Antônio Carlos pensa sobre o quão
efêmero era aquele orgulho vindo da atendente. Imaginava ele que poucos meses a
faria sínica e deprimida. Ela se daria conta de sua real condição, e seria a
partir daí que a jovem poderia ter alguma salvação. Outra possibilidade, a
pior, era a de que não perceberia a sua situação, e acabaria mais e mais
alienada, entorpecida por um parco poder de compra, endividada pelo uso do
cartão de crédito, enganada por anúncios publicitários, pelas pessoas,
estimulada a, gradualmente, se aniquilar. Quando notou os saltados olhos negros
da atendente, calculou que a segunda possibilidade era a mais crível. Nesse
momento, ouve uma voz, em certa medida rouca, que eclode daquela boca de
grossos e bezuntados lábios: É CRÉDITO OU DÉBITO? Antônio responde com uma voz
quase inaudível, vez que estava há muitas horas sem dizer nada: Débito...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Chega em casa. Prepara o almoço. Evidentemente sem qualquer entusiasmo.
Liga a TV enquanto cozinha o macarrão. Vê que a merda toda continua, e que uma
ou outra protuberância faz-se surgir na forma de um novo modismo escroto, ou um
novo e insistente apelo marqueteiro absolutamente deprimente. Por alguns
instantes se dedica a pensar sobre a vida que os executivos da TV levam. Pensa
nas reuniões que realizam. Orgulha-se, ainda que quase quixotescamente, que seu
perfil não induz a novas discussões sobre a estética do que é vendável. O
macarrão cozinha, Antônio Carlos acrescenta o brócolis, é sem dúvida uma
refeição digna. Boceja. Olha o relógio. São 9 da noite. Lembra-se de continuar
uma leitura que lhe pareceu interessante. Ao ter o livro em suas mãos, observa
todas aquelas palavras e, espontaneamente, raciocina que durante aquele dia
seus pensamentos, se transformados em palavras, provavelmente corresponderia a
alguns livros... É aí que, pasmo, se confronta com a realidade de que durante
todo aquele dia, a despeito de tudo o que havia pensado, do vasto universo de
palavras que dançaram em sua mente, apenas quatro a ele foram ditas: É
CRÉDITO OU DÉBITO. </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt; text-justify: inter-ideograph;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-16201847610708076442013-10-29T15:55:00.001-07:002013-10-29T16:56:53.123-07:00CAFÉ COM VOLTAIRE<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não raras vezes algo
curioso acontece comigo, acredito que com vocês também. Vira e mexe me pego em
reflexões sobre em que medida somos livres. Ou mesmo se efetivamente o somos.
Existe um sem número de autores que já trataram do tema e, seus livros, se
reunidos, com certeza comporiam bibliotecas inteiras. Não nego isso. Sei que o
tema não é nada original. Mas isso não importa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Somos livres e presos, ao
mesmo tempo. Foi isso que minha extremamente limitada razão foi capaz de
deduzir. Nossa experiência de liberdade é exercida somente no plano concreto,
do real, de vivências efetivas. E são esses os planos que limitam a nossa
liberdade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Há, portanto, não uma
exclusão, como em princípio soa intuitivo, entre liberdade e limitação a ela,
mas sim uma relação de condição. A liberdade se condiciona a determinados
limites, pois sem eles ela simplesmente não seria realizável, vivível enquanto
experiência. Tentarei ser mais claro. Pense que alguém é infinitamente livre.
Ser “infinitamente livre” é uma construção textual apenas, já que como se é
livre se há um infinito universo de possibilidades, de decisões a serem
tomadas? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É impossível ser
infinitamente livre na medida em que a possibilidade de escolha de uma entre
infinitas possibilidades é nenhuma. Sei que pode parecer bastante abstrato e
até confuso, mas se prendam na ideia de uma liberdade infinita. A partir daí, notem
que se é infinita, qual caminho se irá escolher? É possível dizer “qualquer um”,
mas um dentre quais, se eles são infinitos? O que percebi, raciocinando dessa
maneira, é que UMA EXPERIÊNCIA DE LIBERDADE INFINITA É ABSURDA. Essa reflexão
me permitiu concluir que A LIBERDADE COEXISTE NECESSARIAMENTE COM SEUS LIMITES.
Nesse ponto, me recordei do conceito sartriano de facticidade, e acho que se
trata exatamente desses limites que, paradoxalmente, permitem a experiência da
liberdade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Partindo dessa
constatação, a de que a liberdade é inevitavelmente limitada, penso no grande
número de pessoas insatisfeitas com a liberdade que possuem, exatamente por ser
essa necessariamente limitada. Isso me fez lembrar uma frase de Voltaire, que
quero compartilhar com vocês: “<i>É ESTRANHO
QUE OS HOMENS NÃO ESTEJAM CONTENTES COM ESSA MEDIDA DE LIBERDADE, ISTO É, COM O
PODER QUE RECEBERAM DA NATUREZA DE FAZER, EM VÁRIAS SITUAÇÕES, O QUE ELES
QUEREM; OS ASTROS NÃO TEM ESSES PODER.”. </i>Depois dessa lição de
François-Marie Arouet, deveríamos pensar muito antes de nos queixar de nossa
eventual insuficiência de meios...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Essa história do absurdo
de uma liberdade infinita, também me fez pensar sobre o livre arbítrio. Como já
disse, não possuo uma razão excepcional, minha mente é bastante simples, por
isso não pretendo propor verdades absolutas, até porque, mesmo partindo da
minha mente rústica, sei que elas não existem. O livre arbítrio seria também
apenas uma construção linguística, uma ilusão? A boa e velha SINCRONICIDADE me
presenteou com uma reflexão singular de Voltaire, sim, ele de novo! E eu que
não o imaginava como filósofo! Vejam só: “<i>SERIA
MUITO SINGULAR QUE TODA A NATUREZA, QUE TODOS OS ASTROS OBEDECESSEM A LEIS
ETERNAS E QUE HOUVESSE UM PEQUENO ANIMAL DE UM METRO E MEIO DE ALTURA QUE, A
DESPEITO DESSAS LEIS, PUDESSE AGIR SEMPRE COMO LHE AGRADASSE, MOVIDO APENAS POR
SEU CAPRICHO</i>”. Genial, não? Eis nossa belíssima tragédia: nos consideramos
livres, uma liberdade, porém, que não se exerce infinitamente, é circunscrita,
necessariamente delimitada. Mas, a nossa vontade de agir, o que nos impele a
escolher este e não aquele caminho, será completamente livre? Em que medida as
leis da natureza poderiam nos condicionar a agir de possíveis modos? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O que me levou a escrever
esse texto? Até que ponto esses questionamentos necessariamente me ocorreriam?
Não ocorrem apenas em função das minhas experiências de vida? Ou haveria algo
inato, tal como o fato de eu ser libriano e, segundo a astrologia, os nascidos
em libra tenderem a ser reflexivos, tais como todos os nascidos em outras das
três casas pertencentes ao elemento ar? Voltaire certamente repudiaria essa
última sugestão. Eu não me considero capaz de solapá-la tão peremptoriamente.
Sou hesitante, outra característica típica dos librianos...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Se, como dizem os
dialéticos - tudo é e não é ao mesmo tempo -, quanto à liberdade, somos e não
somos livres. Independente de sermos ou não efetivamente livres, o que importa
é que algo somos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-19392569532750647292013-10-17T20:20:00.003-07:002013-10-19T08:07:38.090-07:00SENTE-SE<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;"><br /></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 14pt; line-height: 150%; text-indent: 35.4pt;"> Fazia um belo dia de Sol
em Ourinhos. Eu o vivia sentado num banco. Mais de meio dia já se passava e a
luz ganhava em encanto. Um amarelo vivo banhava a calçada e a relva. O sabiá
cantava com força seu tempo de amor. Pensava na impetuosidade da vida, na energia das
criaturas, na beleza da existência, a despeito da aparente ausência de sentido
ou finalidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Podia
ficar por ali mais uma hora, uma hora e meia. Tomaria o ônibus para São Paulo
só às três e meia da tarde. O bem-te-vi ganhava do sabiá na séria brincadeira
de quem cantava mais forte, no instante em que eu fechava os olhos para melhor
sentir a luz do sol e o vento fresco que fazia música nas folhas das palmeiras
ao mesmo tempo em que carregava o aroma das flores do ipê amarelo, todo
florido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> A
araponga brincava com o coquinho no bico. Armava voar e desistia, cansada. As
rolinhas voavam de e para todos os lados, fazendo pingos de sombra. Entre
essas, uma diferente surgiu e me chamou a atenção. Era a sombra de um homem,
que caminhava em minha direção. Foi o suficiente para que eu o olhasse, e
despercebesse o espetaculozinho de luz, calor, plantas e pássaros que se fazia
até então. O que vi foi um homem velho, pardo-bronzeado, de rala-barba-branca e
cabelos ralos. Vestia-se dignamente, como os antigos gostam de se vestir. Ao
aproximar-se, notei que estava sujo e com a roupa rasgada em algumas dobras,
porém. Me acenou com a cabeça e se sentou ao meu lado esquerdo. Eu devolvi o
aceno, sem dizer palavra.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Não
tive o desejo de me levantar dali, apesar de o velho não cheirar bem. Pensava
que isso poderia ofendê-lo, já que naquela praça havia outros bancos vazios e
ele havia feito questão de se sentar ao meu lado. O cheiro já não estava tão
ruim, cheirava a tabaco. Ele havia tirado do bolso um maço de Derby, acendido
um e oferecido para mim. Recusei, dizendo que não fumava, mas que muito
agradecia. Tentei voltar à contemplação, caçando ideias em minha mente,
reatando pensamentos. O que vinha, no entanto, eram possíveis diálogos que eu
poderia propor com aquele senhor, os quais foram prontamente sufocados pela conclusão
de que ele parecia querer ficar calado e, como eu, observar o dia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Por
curiosidade, somente, quis olhar melhor sua face. O nariz adunco, pronunciado,
sob uma pele bronze e esturricada, um rosto como digno monumento a representar
nossa organicidade em face da totalidade da vida. Das forças inorgânicas que
nos possibilitam e nos terminam, simplesmente, tragicamente. Suas têmporas
ossudas pareciam anunciar que ali se tinha um homem que, apesar de velho, era
forte. Ele tragava a fumaça de seu tabaco, sem demonstrar prazer ou dor. A
expressão, imutável. O olhar parecia enxergar longe ou não enxergar nada. Era a
quietude.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Enquanto
passava meu olhar sobre o chão, observei seus sapatos. Encardidos de terra vermelha, de tão gastos e
sujos tinham um aspecto de singularidade. Como se fossem feitos somente para
ele. Não me fizeram pensar em produções industriais de massa, mas sim o quanto
aquele homem devia de ter andado, perambulado em busca de quê? De nada? De
tudo? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> No
instante em que pensava sobre suas andanças, outra sombra humana surgiu.
Caminhava rumo ao nosso banco. Olhei para ele, e vi que não retribuía o olhar,
apenas caminhava. Igualmente velho, era mais claro, porém, e suas roupas
pareciam em melhor estado. Quase imberbe, os cabelos brancos eram curtos, mas
começavam a cachear. Nos cumprimentou com um aceno de cabeça, sentou-se ao meu
lado direito. Seu cheiro também não era agradável, mas também não me incomodou.
Resolvi permanecer ali. Aquela pele clara ganhava em vermelho-laranja, marcas,
rugas, chagas. Quanta luz já não havia se misturado a ela? O quanto somos
diferentes da luz? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> Esse senhor estava usando
paletó. O vento frio, ainda que em dia de sol forte, o justificava. Sem nada
dizer, levantou o braço direito, e com a mão esquerda fuçava bolsos. Logo pude
notar que, de seu velho paletó, a mão esquálida e cheia de veias colhia uma
garrafinha com dois pequenos copos na boca. Trêmulo, encheu um dos copos e me
olhou. Seus olhos azuis eram pálidos, como o céu em dias de estiagem. Eram
bondosos tanto quanto tristes. Disse que não bebia, mas que agradecia. Então se
esticou e ofereceu a bebida ao outro homem. Este aceitou, sem enunciar palavra,
mas mediante gestual, agradeceu. Numa talagada, esvaziou o copo e o colocou na
beirinha do banco. Do seu maço de cigarros, sacou um, e o ofereceu ao do
paletó, o qual igualmente agradeceu a oferta, através de gesto. Ambos beberam,
ambos fumaram.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não ouvi uma sequer
palavra deles dita. Não havia movimentos bruscos. Não havia medo, pressa,
ansiedade, cólera. Se nada diziam, era porque nada precisava ser dito. Como se
tudo já houvesse sido falado e nada resolvido. O que havia era a velhice, a
dor, o martelar incessante do passado, os quais, pensei, tornavam-se menos
insuportáveis em companhia. Nem precisava conversa, a simples presença era o
que permitia comungar da solidão, e dizer o indizível, sem balbuciar palavra.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O relógio acusava três e
vinte e cinco. Do banco tive de levantar. Nem cinco passos dei, olhei para trás
e os velhos permaneciam nas mesmas posições. Fiz um aceno com a mão. Eles
fizeram o gesto de sempre, aquele com a cabeça. Um bem-estar me acometeu quando
a ternura por eles fez em mim uma viva sensação. O sentido das coisas não se
diz, não há palavra. Sente-se.</span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-42377327369131935242013-07-26T19:29:00.002-07:002013-07-26T21:24:07.572-07:00OLHOS AZUIS CINZA<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Era uma manhã fria e eu custei a levantar. Tinha de, porém. Era o dia de fazer o exame da proficiência, uma bagaça necessária para o mestrado. A prova seria na cidade universitária, e era domingo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Poucas linhas de ônibus e, se não bastasse, começou a chover. Peguei o primeiro busão que passaria no metrô, e resolvi chegar até a USP pela linha amarela. Metrô lento, e uma vez na estação Butantã demorou até que eu descobrisse de onde saía o ônibus para o campus, isso porque sou tão lento quanto o transporte de São Paulo, Capital. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">As demoras se somaram e eu estava quase atrasado. Isso me forçou a, assim que descesse do ônibus, correr até o prédio onde seria aplicada a prova. Lá chegando, a sala estava cheia, e eu, suado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Até aí, tudo bem. Deslocar-se em São Paulo aos domingos quando não se tem carro pode ser fora de mão, como dizem. O importante é que cheguei a tempo. Não imaginava que tão a tempo, isso porque o cara que ficou de aplicar a prova cismou com o forro da sala, e deixou de nos dar o caderno de questões até que resolvesse a parada. Havia uma placa meio solta, e o vento forte lá de fora estava formando uma corrente de ar. O japa que estava logo abaixo da placa parecia assustado. Chamaram um servente, que apenas olhou e disse que era assim mesmo. Superada essa questão, aplicou-se a prova. Aí não ficou mais tudo bem...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Havia realmente me preparado para aquele exame, mas a prova estava absurdamente difícil. Em casa tinha feito as últimas três ou quatro provas e me saí bem. Não fiquei nervoso, nem nada, mas me deu um quê de desânimo. Apesar disso, fiz tudo até o fim, mas não saí confiante, nem desconfiante, pois vai saber, e se, de repente, eu passei?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Resolvi a questão aceitando o fato de que, na pior das hipóteses, prova tem sempre e todo o ano. Com isso na mente, caminhei até o ponto de ônibus mais próximo. Antes que lá chegasse, percebi uma garota de traje punk falando ao telefone. Ao me aproximar mais, notei seu sotaque, era soteropolitano. Pensei no Camisa de Vênus, e ela parecia ser uma versão mulher do Marcelo Nova. A mina não largou o telefone, continuava tagarelando com alguém que parecia ser uma amiga ou confidente, absolutamente irrelevante.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O que me ferrou é que eu estava sem fone de ouvido (havia-o estragado em casa quando saí com pressa) e tive de ouvir toda aquela ladainha sobre aceitação e comportamento sem sentido dos homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Do nada, surgiu uma figura que se sentou ao meu lado. Era um cara meio coroa, na casa de uns 38, 40 anos. Um tanto alto, um tanto magro, cabelos loiros grisalhos e olhos azuis. Eram azuis cinza. Só percebi o quão cinza eram seus olhos no instante em que se virou para mim e perguntou se os ônibus realmente passariam. Começamos a conversar, e em poucos minutos deu pra notar algumas suas excentricidades, na medida em que se abria sem ao menos saber meu nome.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O cara me disse que fez a prova de proficiência, mas que não havia estudado nada. Saíra de Bragança Paulista, e não iria desistir caso não passasse. Um professor do cursinho que frequentava lhe disse para jamais desistir. Havia dito a sua esposa que faria, custasse o que custasse, o mestrado. Enquanto falava sem parar, chegaram mais pessoas no ponto. Elas davam uma olhada para nós e logo se davam conta da minha sorte.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O ônibus chegou e subimos. Sentei e a figura sentou-se, é claro, ao meu lado. Continuou falando sobre estudos, carreira, anseios, planos. Eu apenas concordava, monossilabicamente. Quando cansava dos monossílabos, entoava o seguinte dizer: “no que faz muito bem”. O que realmente me espantava, nessa altura, não era mais o fato de o personagem ter se aberto sem saber quase nada sobre mim, mas sim a sua incapacidade de perceber a minha falta de interesse naquela conversa. Era realmente espantoso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Nas ruas da cidade universitária, o motorista do ônibus esbanjava seu espírito arrojado, aventureiro. Fazia curvas correndo uns 80 por hora, e a força centrípeta agia sobre nós. Diante disso, meu parceiro reclamava. Apesar do desconforto das curvas bruscas, achei bom que de repente se interessasse por outra coisa e se preocupasse com o motorista. Mas, rapidamente, voltou a sua explanação sobre carreiras jurídicas. Tive a certeza que a viagem até a estação Butantã seria lenta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Demorou, mas chegou. Uma vez na estação, porém, foi que me dei conta de que ali só havia um sentido para os trens, de modo que provavelmente aquele cara iria me acompanhar. Na verdade, eu já estava preparado para isso, e resolvi deixá-lo a seguir e a falar. Eu permanecia nos monossílabos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">No vagão do trem da linha amarela foi que a coisa ficou feia. Ele me perguntou sobre o que eu fazia, e eu disse. Na minha resposta citei minha passagem por um gabinete de desembargador da área criminal, e isso foi a fagulha para o incêndio. Romualdo (naquele momento já sabia seu nome, pois acontecera de o sujeito referir-se a si mesmo e chamar-se pelo nome ao reproduzir diálogos que travara) se empolgou e disse que “atuou” como advogado criminalista. Bom, até aí, nada constrangedor. Mas, sem que eu levantasse a bola, passou a contar uma história de que defendera um cara acusado de estupro. Não questionei nada sobre os detalhes, mas isso não foi preciso para que Romualdo contasse todos os meandros, todas as especificidades daquele caso. Enquanto falava em alto e bom som: “O sêmen não era dele”; “A penetração não foi profunda o bastante”; “não houve coito anal”; “a vulva estava incólume”; – os passageiros em volta olhavam espantados para ele, e o cara não se tocava que perto de nós havia crianças, pessoas idosas, gente amontoada. Foi aí que, como se eu tivesse apertado uma função “stand by” na minha mente, deixei de ouvir o que ele dizia, e prestei atenção apenas em sua expressão. Seus olhos estavam mais cinzas que azuis, e assustadoramente vítreos. Internamente, me perguntava sobre como é possível alguém ter tão pouca sensibilidade, simplesmente não notar que ali não era o momento de dizer aquelas coisas e daquela forma? Travei um embate sobre a necessidade de dar um toque no cara, ou deixar que uma hora ele se desse conta. Tenho uma tendência a intervir o menos possível quando se trata da liberdade alheia, mas, mesmo assim, a primeira opção fez-se vitoriosa. Resolvi mudar de assunto. Foi quando Romualdo me disse que iria descer, mas que gostaria de me reencontrar na prova de segunda-feira. Eu lhe respondi, dizendo: vá pela sombra! Pensei se um dia me tornaria daquele jeito, ou mesmo, se já assim não sou. Quem sabe o quão desagradáveis podemos ser?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-15293291530925746132013-07-13T18:57:00.000-07:002013-10-17T17:59:18.062-07:00PASSARINHO<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> <i><span style="font-size: x-small;">Para Gabriele Toth, </span></i></span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Tinha um passarinho,</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cujas penas brincavam com as cores</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Voava pelos sonhos mais distantes</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E de lá de longe o via voltar e trazer sabores</span></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Anunciava a chegada com o seu cantar</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Colorindo tudo ao seu redor</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Bastando-se fazer presente, para as dores aliviar.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pedia passagem à escuridão trazendo consigo a luz do dia</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Já que esse passarinho, assim como as flores</span></div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Alimentava-se de Sol, sim, ele podia</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"></span><br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Porém não retribuía com frutos, mas com amores!</span></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">
</span>
<br />
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Esse passarinho, às vezes, muito ficava agitado</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Piava assustado</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Gritos, sirenes, sujeira, maldade</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O passarinho muito sofria viver na cidade</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As voltas do mundo o assustavam</span></div>
<div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não entendia por que as pessoas não se amavam</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cantava para mim que eu devia dar vida àquilo que sonhava</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O que coloriu minha alma</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Eu lhe retribuía afagando-o, </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Passando-lhe calma...</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Por algum tempo, alimentou-se na minha mão</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">De companhia que expulsava a solidão</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cantou certa vez que me amava mais que o mundo</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O que me tocou fundo.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Disse à ave querida:</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não sou maior que a vida...</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Um dia esse passarinho cantou que partiria</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E que aceitar eu teria</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ele tinha a vida a desbravar</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Jurei que não choraria</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Porque para sempre o veria </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">No céu das lembranças a voar</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Se dele falta sentir</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não hei de sofrer</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Com ele aprendi, quando o ensinei</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Todos estamos de passagem</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A existência é só uma miragem,</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Que apesar das distâncias,</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Dos maldizeres e dos sofreres</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ânsias e sedes, </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O mundo não tem paredes!</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cantei ao passarinho que e</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">le sempre terá um ninho</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quente, gostoso e salpicado de canela</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Se sofrer nesse vasto mundo moinho </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Basta pousar em minha janela</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Suas feridas hei de cuidar</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E quando estiver refeito</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Preparado para de novo se aventurar</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não se esquecerá de meu peito</span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Acalentado lar.</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Pretende a ave descobrir o sentido da vida</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Vejo-a voltar novamente, ferida</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Que percorrera todo o céu cantará triste</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Que vira tudo o que existe</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E voltara para o mesmo lugar</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Sem a grande verdade encontrar</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Terei de dizer ao passarinho,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Que o sentido da vida é buscar seu sentido</span><br />
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">E que se segredo há,</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Está exatamente em sempre permitir-se voar!</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<br />
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-65681447728760399702013-07-05T21:17:00.001-07:002013-07-07T16:32:26.046-07:00UMA NOITE QUENTE<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><br /></span></span><span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"> Daquelas que se você não se atira no mundo, o mundo massacra você. Foi numa assim que a coisa toda aconteceu. Mario Hirota e eu. Ele, deprimido; eu, em busca de coisas e sensações novas, diferentes. Após algumas garrafas e conversas absolutamente sem sentido, e, me diga uma coisa... Por que diabos tem que ter sentido? Decidimos cair na noite. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Um artista mal compreendido, solitário; um burocrata insatisfeito, que não tinha a mínima ideia de que rumo dar a sua vida. Éramos uma bela dupla.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Evidentemente, paramos na Rua Augusta. Afinal, a que outro lugar poderíamos ir? Caminhando, sempre no sentido centro, observávamos o que poderia rolar. De repente, após ultrapassarmos a passos largos cinco ou seis baitolas, nos deparamos com um grupo de 10 ou 12 garotas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">É algo incomum um grupo tão grande de mulheres se aventurando na noite paulistana. Se pretendesse entrar nas razões para que isso seja algo tão raro, deveria escrever um tratado de cunho sociológico, mas não quero, NÃO É A OCASIÃO. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O caso é que estávamos em meio. Puxei conversa. Houve alguma resposta, nada muito receptivo, porém não nos expulsaram. Acreditei num flerte com uma ou outra. Eram várias, sorrindo, falantes, um vasto harém da pós-modernidade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Uma delas, a que parecia ser mais altiva, gritou: “a gente vai entrar na boate!”. Achei que fosse apenas uma mentira, uma forma de nos enrolar. Mas não era. Em fila indiana, caminhavam rumo ao guichê do puteiro à direita da Augusta, lá pelas bandas do meio, mais ou menos na linha média entre a Avenida Paulista e o centro sujo da Capital. Inacreditável. O que faria aquele grupo de garotas num puteiro? De qualquer modo, não havia outra coisa a se fazer, a não ser seguir o séquito. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Dez paus a cabeça pra entrar, com direito a uma breja. Nada mal. As garotas continuavam agrupadas, como que, se juntas, estivessem formando uma blindagem. A reação das putas era curiosa. Algumas olhavam com um certo ar de desdém. Outras, curiosamente, com empatia. Mas a esmagadora maioria, com um profundo ódio! No olhar delas, era como que uma placa de NEON, em letras garrafais, dissesse: SUAS VADIAS, SUMAM DAQUI. COMPETIÇÃO JÁ HÁ DEMAIS !!!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Entretanto, não demorou muito para que as garotas de programa notassem que o interesse das clientes era, exatamente, as próprias garotas de programa. A coisa toda caminhou para um clima de harmonia, o qual, porém, era interrompido, ainda que temporariamente, por uma ou outra figura escrota que tentava xavecar as minas do grupo como se fossem putas. Havia um sem número de caras sentados que, com a entrada das garotas, resolveu agir. O grande número delas fazia com que o cara logo saísse fora. Acabava sendo hilário.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Resolvi gastar nossos créditos. Duas latas de cerveja ruim. Uma para cada um. Razoável. Nos dirigimos para o grupo das mulheres transgressoras. Sim, transgressoras. Que garotas, reunidas em turma vão para uma boate frequentada apenas por homens? Digam o que disserem, aquilo, para mim, foi algo absolutamente contestador. Eu pensei nisso, não se tratava apenas de umas minas entediadas buscando algo para fazer numa sexta insossa, tratava-se, em última análise, de uma atitude anárquica, uma reação raivosa contra o sistema, contra o “estabilishment”. Eu sabia o que elas queriam com aquilo e pretendia, o mais rápido possível, fazê-las compreender que estava por dentro da parada. Queria um olhar delas sobre mim como quem olha alguém pertencente ao clã. Mais que isso, um olhar de admiração. Afinal, não é por isso que saímos de casa?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Consegui. Uma delas me olhou e disse “esse cara é foda, que tipo de moleque entra na boate usando chinelos. Ele é diferente, meninas! Me diga uma coisa cara, o que você faz mesmo?” Respondi, coisa e tal, mas logo o interesse dispersou. Não entendi. Meu amigo, Mário, tentava se aproximar, mas, como nada dizia, pouco era notado. De repente, percebi que algo iria acontecer. As mulheres passaram a dar as mãos e silenciosamente cada uma foi ocupando um ponto, formaram um círculo. Aí, a que parecia mais altiva, confirmou a aparência, discursou. Falava algo sobre a condição das mulheres, não deu pra ouvir direito. Após seu discurso, todas elas passaram a entoar alguns dizeres numa língua estranha (parecia ser numa língua estranha). ERA UM RITUAL, O RITUAL DAS LÉSBICAS PÓS –MODERNAS. Mário e eu apenas observávamos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Foi aí que a merda aconteceu. Num rompante de loucura, me joguei no centro da roda. Pulei, ensaiei alguns passos de dança. Era uma forma de escrachar o que estava rolando. Atitude antissocial? Transgressora? Boçal? Criminosa? Sinceramente, não sei ao certo. O caso é que aquele “ritual” me provocou. Vai ver que minha reação decorreu de impulsos ídicos (relativos ao “ID”, acho que esse termo existe). Sabe aquela história da crise do macho? Hahahaha, é por aí...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Evidentemente, as garotas reprovaram minha atitude. Houve empurrões, gritos para que eu me mandasse dali. Foi o que, após alguma resistência, atendi. Fui ao outro extremo da boate e lá me sentei num sofazão vermelho. Mário ficou próximo ao ritual, com a cara de quem não entendia porra nenhuma. Realmente, não havia como entender.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Quinze minutos depois, voltei às proximidades do grupinho. Retomei um ou outro diálogo com uma ou outra delas. Havia umas mais receptivas, outras bem hostis. Sem dúvida nenhuma era um gineceu bastante plural, tanto nos penteados, aparências, quanto nos temperamentos. Se você não sabe o que é gineceu eu deveria sugerir que pesquisasse. Mas, considerando que você deve ser preguiçoso, vou dizer. GINECEU era o cômodo, o local, reservado às mulheres na GRÉCIA ANTIGA. Estou falando, portanto, de um gineceu, pelo menos quanto à composição, e não ao lugar. Pois na Grécia Antiga as mulheres dignas de estarem em um gineceu não frequentavam prostíbulos. Faziam o papel de putas no seio do lar. Mas, voltemos a Pós-Modernidade e sejamos amigos do SIGISMUNDO Bauman. Ah, você também não conhece o Sigismundo? Bom, nesse caso, por favor, vá pesquisar! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Mário perseverava. Parecia apaixonado por uma que ostentava um penteado bastante armado. Eu admirava seu poder de insistência e, mais ainda, a paciência da vítima.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Sem mais, nem menos, a líder anunciou a retirada. Mário e eu já havíamos bebido a garrafa de vodka das donzelas, e estávamos meio atordoados. A ordem de retirada nos atingiu. Perguntávamos para onde iriam. Se não gostariam de ficar um pouco mais. Desespero, insanidade, decadência.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Nossas súplicas não foram capazes de arrancar delas seu destino. Nada mais coerente. Era um grupo de lésbicas. A bebida, a madrugada, faz a realidade transmudar. Talvez, sob o sol do meio dia, aquela mulherada fosse repugnante. Uma vez que elas se arrancaram de lá, nós fizemos o mesmo. Mas, dessa vez, decidimos não ir atrás delas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 16pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Nos viramos para o outro lado. Sim, havia outro lado. Nada transmudado. A noite cessava, e naquele momento não éramos capazes de avaliar se ela havia sido boa ou má, mas sentíamos o peso das horas. Para nós era certo que as coisas haviam acontecido, aliás, como, querendo ou não, sempre acontecem, é aquela história de beber para que algo aconteça. Quase nunca falha. Senti, de leve, um vento frio. Todo o calor que havia nos impelido à aventura, dissipara. Falando nisso, sempre me perguntei: é o frio que chega, ou o calor que se esvai?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-57652108386478766532013-07-01T11:36:00.003-07:002015-06-30T09:58:20.602-07:00EDINALDO<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">É difícil crer em algumas histórias. Costumo, no entanto, acreditar mesmo nas mais incríveis. Pense no grau de loucura das pessoas, toda aquela infindável carga de publicidade vomitada incessantemente sobre todos, todos os dias. Note as diferentes e doidas manias. Tantas bizarras associações: carro/relógio, esposa/jardim, sexo/dinheiro...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Já tem tempo que tenho notado tais maluquices, e por isso me sinto um tanto blindado. Quer dizer, eu acho que pelo menos até certo ponto. Mas acreditar nas histórias, por mais escatológicas que sejam, não tira delas o poder de nos chocar e, FELIZMENTE, divertir, ainda que de maneira tragicômica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Havia um cara chamado Edinaldo. Defini-lo é traçar um paradoxo. Imagine um cara homossexual, afetado, de fala mole e trejeitos de perua. Mas, apesar disso, que ostente um baita rosto quadrado, uma enorme e grotesca mandíbula, cobertos por pelo grosso e espesso. Mesmo fazendo a barba todo o dia e, acredito eu, passando algumas loções e o caralho a quatro, o que se via naquela farta cara era uma grossa camada azulada, repleta de pequenos furos a indicar os pelos que ali cresceriam.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Se não bastasse o mal estar que a horrorosa figura causava apenas pela simples presença, sua necessidade de ser notado e, principalmente, de ser ouvido, fazia a coisa toda ficar bastante desagradável. Pequenos feixes de cabelo marcavam sua testa, precipitando-se do resto que sempre se encontrava besuntado de gel. Era a triste imagem de um vampirinho mandibuloso, não muito alto, mas atarracado, carente e verborrágico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Edinaldo orgulhava-se em trabalhar no Palácio da Justiça. Os gays tendem a valorizar o lance da arquitetura, o refinamento, e por isso ele enchia a boca pra dizer onde trabalhava. Calculo que só não contava a outra parte. A de que era terceirizado, e que seu trabalho consistia em conferir a quantidade de volumes dos processos antes de colocá-los em malotes dos Correios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Ainda que trabalhasse num local distante dos cartórios judiciais, fazia questão de dar rolê pelas salas do Palácio. Queria ver e, principalmente, ser visto. Foi assim que o conheci. Aparecia frequentemente no cartório em que eu trabalhava. Fez amizade com o par de pernas mais assediado da seção. Fazia os funcionários rir contando fofocas e suas impressões sobre as pessoas. Chegou a dizer que eu tinha jeito de que “gostava da coisa”, não me ofendi, deixava rolar. Não satisfeito, ele insistia que outro cara também era “veadinho”, esse cara também não ligou. Simplesmente não dava pra levar Edinaldo a sério.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">No repertório de suas histórias, sempre havia um sexo selvagem com um cara bem dotado, quase sempre bonito e bom de grana. Também rolava o papo de que naquele dia, em especial, sentia verdadeira fome de pau; que não aguentava mais seu setor; que seguiria outra carreira; que fez amizade com alguém importante; que sua personalidade se afinava com certo personagem de uma novela. Ladainhas, ladainhas...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Teve um dia, no entanto, que a coisa mudou de figura. Edinaldo, sempre sorridente, daqueles caras que riam bastante, inclusive do que mesmo falam, estava triste. Macambuzio, perambulava pelo Salão dos Passos Perdidos. Eu tinha de atravessar o salão para levar um processo num Cartório, passei por ele. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- E aí, monstro, cê tá legal?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Ai, Alê, mais ou menos. Aconteceu uma coisa meio triste, cara...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- O que foi?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Lembra que eu te disse que queria ser ator pornô? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Hum-hum, lembro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Pois é, fiz um teste ontem. Mas foi uma droga, quero dizer, deu tudo errado...<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Não te contrataram por que você é muito feio?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Ai, idiota, não zoa, não vê que tô mal?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">De fato, ele estava na “bad”, como dizia. Nunca o tinha visto naquele estado. Resolvi ser legal, não queria que ele chorasse. Não na minha frente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Tô brincando, desculpa. Mas e aí, o que pegou?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Você sabe como são os testes para os filmes pornô?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Não faço ideia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Cara, me comeram por três horas, praticamente sem parar. Foi um verdadeiro revezamento de rolas. Eram picas enormes, pés de mesa, me estraçalharam!!!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Segurei o riso. Não queria uma bicha gritando comigo. Disse:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Mas por que está triste, então? Achei que estivesse realizando um sonho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Você não tá entendendo! Fui estraçalhado! Três horas! Me lembro de quatro ou cinco caras! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Tá, entendi, devem ter te machucado. Mas depois de tudo isso, eles devem ter gostado de você, não?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Não, cara, não fui selecionado! Depois do teste, me disseram que EU NÃO TINHA O PERFIL! Tremi, fiquei em estado de choque! E Sabe a única coisa que eles me deram?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Não.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Percebi que Edinaldo lutava contra o choro. Balbuciou:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">- Um refresco de caixinha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-54954111637837366052013-06-30T12:48:00.003-07:002013-07-14T14:45:13.892-07:00DIAS CINZENTOS NA CAPITAL<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Penso naquela cárie bastante profunda<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Presente no dente molar do aluno da Uninove<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Nos estômagos remexidos em razão das ressacas<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Telefonemas e/ou mensagens que não foram dados<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">A despeito das promessas de que seriam<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Jogos de computador, pornografia na internet<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">As horas escorrem rumo ao vazio<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Dores nas costas, alongamentos que não foram feitos<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Gorduras viscerais, comidas rápidas nas horas perdidas do dia ou da noite<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Cartões de crédito, ingressos, bilhetes do metrô<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O sentimento de estar envelhecendo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">De deixar de ser uma possibilidade<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">E tornar-se um fracasso em definitivo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">As cáries perserveraram doendo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O hálito de dente careado não estava bom<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Mas os chicletes de menta o encobriram<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Nas televisões colocadas nos ônibus <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Há a notícia de que Ronald, filho de Ronaldo, o Fenômeno<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Mudara o penteado<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Trata-se da nova personalidade artística brasileira<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Construída por bem formados publicitários da Escola de Comunicação <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">E Artes da Universidade de São Paulo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Naquele drink havia uma dignidade diferente<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Era importado o whisk que o compunha<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Um novo aparelho celular se repete aos milhões<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Mãos descalejadas seguram-nos, e quase nunca os soltam<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">A chuva forte começou e<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">As mentes liquidadas lambuzam as calçadas<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">É mais um dia cinzento na Capital.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-52850470936849653682013-06-06T19:37:00.004-07:002013-06-06T19:46:37.435-07:00DENIS MÃO-QUEIMADA<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"> Eu tinha uns doze ou treze anos, e estudava no Fábio Barreto. Por ser uma escola pública, era um lugar absolutamente interessante, ainda que deprimente vez ou outra. Nessa idade, tinha muitos amigos. A grande parte deles era pé rapado, como eu. Mas alguns eram miseráveis a ponto de não ter o que comer em casa e esperarem ansiosamente pela merenda, quase sempre sopa fria. Perto desses caras eu me sentia rico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Além dos amigos, havia outros caras que às vezes eram legais, outras vezes extremamente violentos. Me lembro de um tal Alexandre Crown (acho que é assim que se escreve o nome dele), era um cara branco, de olheiras profundas e cabelo avermelhado. Um tipo nada comum na nossa escola. Talvez nos identificássemos por sermos brancos.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ele era muito esperto, e inteligente até, mas sofria de uma terrível oscilação de humor. Uma vez, sem que eu nada perguntasse, levantou a camisa e se virou de costas. Fiquei chocado com a quantidade de vergões, cicatrizes, hematomas. Riu da minha cara de espanto. Teve uma outra sensacional. Ele mostrou os pelos do saco para as minas mais velhas, provando que eles eram ruivos. Naquela idade acredito que ele era o único a ter pelos no saco. Estudamos juntos na quinta série. Na sexta, achei que fosse encontrá-lo, mas fiquei sabendo que havia morrido. Um moleque me contou que Alexandre morreu ao pular no rio, disse que ele estourou a cabeça ao se jogar da ponte e atingir uma rocha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Tinha outras figuras estranhas. Um cara chamado Eduardo, que logo passamos a chamar de Edurubu, pois a semelhança com a ave de rapina era óbvia. De tanto zoá-lo, um dia acabei despertando sua fúria e sobrou para os ossos de minha face. Nada mais justo. Edurubu se tornou um grande capoeirista, vai ver fui eu o responsável, hahaha. Só não contava com o que a sorte armou para ele. Isso aconteceu quando já havíamos terminado a escola (eu acho que ele terminou). Edu estava morando com uma mina e, segundo me contaram, a garota estava com muita raiva dele. Enquanto Eduardo dormia, ela jogou água fervente na sua cabeça. Edurubu quase morreu. Mas, uma vez renascido, jamais foi o mesmo. Tornou-se um grande traficante e hoje habita frequentemente grandes presídios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Durante meus doze, treze anos, desenhava compulsivamente. Quase sempre retratava colegas de sala de maneira bizarra. Professores também. Não sei se de tanto praticar, acabei ficando bom nisso. Uma vez, na aula de arte, estava desenhando uma paisagem formada por figuras geométricas (acho que esse era o dever). Um cara da minha sala que quase nunca falava comigo, parecia bem mais velho, repetente, colou do meu lado e passou a observar eu desenhando. Fazia uma cara de idiota maravilhado. Aquilo para mim era algo incomum. Esperava que ele tirasse sarro, desse um tapa na minha mão, qualquer coisa, mas não que admirasse. Ele me disse: “cara, você desenha muito bem, que dá hora, pô, você é foda!”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Apesar do estranhamento inicial, fiquei contente por saber que tinha um aliado repetente. Naquela escola nunca sabíamos quando precisaríamos de um desses. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>As manifestações de apreço não pararam por aí. Uma vez a professora de língua portuguesa nos obrigou a ver um filme. Era sobre um garotinho que conversava com seus brinquedos, era um boneco de índio e um boneco de um cara branco do faroeste. Esse garotinho tinha olhos azuis e cabelos loiros. O repetente, no final do filme, chegou em mim e disse: “pô, cara, cê viu os olhos do carinha, azulzinho, que dá hora...o cabelo dele era que nem o seu, e seus olhos são quase como os dele, né?” Nesse momento não sabia o que dizer. O cara era negro, ou melhor, mulato escuro, algo assim, e nutria uma admiração mórbida pelos brancos. Naquela altura eu já sabia que aquilo poderia se dever, em parte, a um padrão estético coisa e tal, certamente não conhecia a palavra estético, mas tinha noção do que era um padrão de beleza. Na minha mente conformei a coisa dessa maneira.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um dia, no intervalo da aula, que chamávamos recreio, um cara chegou em mim e disse: você é brother de Denis Mão-Queimada? Eu disse que nem ao menos conhecia. Então o moleque apontou para o meu fã repetente. Eu nem sabia seu nome, muito menos o apelido, Denis Mão-Queimada. Depois de saber o seu nome e apelido, me senti mais seguro diante de uma eventual abordagem da figura. Se o chamasse pelo nome caso se tornasse violento do nada, certamente se acalmaria. Evidentemente, não falaria o apelido. Imaginava que ele o odiasse. Denis realmente tinha numa das mãos marcas de queimadura, o que era suficiente para dar pena. O caso é que poucos tinham pena dele. A maioria tinha medo, e por isso um grupo muito seleto de alunos daquela escola o chamavam de Denis Mão-Queimada. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O tempo foi passando, e Denis, de uma hora para outra, desapareceu. Quando temos doze, treze ou quatorze anos, as coisas acontecem repentinamente. Nossas cabeças rapidamente se ocupam com algo novo e não nos damos conta da inexorabilidade do tempo. Não damos conta que existe a palavra inexorável. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O caso é que eu já havia esquecido desse cara, quando ouvi uns garotos conversando e citando seu nome, ou melhor, seu nome completo, Denis Mão-Queimada. Disse a eles que o conhecia, coisa e tal. Aí me contaram que Denis havia saído da escola porque sua mãe tinha sido presa, e ele teve de se virar. Sobrevivia de pequenos furtos e alguns bicos. Acrescentaram que Denis havia quebrado o braço ao cair da cama de João Boludo, um velho horroroso que o enrabava a troco de alguns vinténs. Os moleques, chorando de rir, me disseram: “agora ele não é mais Denis Mão-Queimada, é DENIS GOZINHO.” <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Provavelmente eu devo ter rido junto. Lembrando agora soa como pura maldade. É aquela história do inexorável. A vida é implacável, não dizem? O caso é que Denis me parece, agora, como um garoto que não causa medo algum.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-73182924143154996332013-05-27T19:31:00.003-07:002013-05-27T19:34:28.633-07:00A PONTE<br />
<br />
<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ_YrtUPXbdEn85YxgEnLykbYI_ebjxD8UIlKz5EKxlDlbCsYBw9yOMb6H0OvrIT6_rV62Qjujn8oGwLihfdNpnUZobzIbOTTserO1NERJxtqy0OfEbqFD-_VO185T8jcR32t5wRmL72w/s1600/A+ponte.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="145" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQ_YrtUPXbdEn85YxgEnLykbYI_ebjxD8UIlKz5EKxlDlbCsYBw9yOMb6H0OvrIT6_rV62Qjujn8oGwLihfdNpnUZobzIbOTTserO1NERJxtqy0OfEbqFD-_VO185T8jcR32t5wRmL72w/s320/A+ponte.jpg" width="320" yya="true" /></a></div>
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<br /></div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;"><span style="font-family: Calibri;"> “The river of deceit flows down"</span></span></i><br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span lang="EN-US" style="font-size: 14pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: EN-US;"><span style="font-family: Calibri;"> (Layne Staley)<o:p></o:p></span></span></i></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br />
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O rio era determinado<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O sentido para o qual corria era sempre o mesmo<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Antes de saltar da ponte, imaginava segui-lo eternamente<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Mas uma vez dentro dele, era apenas levado<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Não seguia, não agia, não podia, não queria<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Acontecia...<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">De corpo estendido, de costas para o remanso<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<div style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">A luz escurecia a visão.<o:p></o:p></span></span></div>
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="border-bottom: medium none; border-left: medium none; border-right: medium none; border-top: medium none; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center;">
<br /></div>
</div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-36576297580018380702013-05-26T11:32:00.003-07:002013-05-26T16:17:00.042-07:00KELSEN, KANT E LUHMANN<div class="separator" style="clear: both; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRFf6UX4UaYxJNrez-Z9GXTi7iYhqitE3j8HDMEC0FoplHOUmnhUNvsBV-MhlwbpIPHXjsqQXls3dhCynym7CyjuJvGCHJ-pMxb51Oyf_To5Cbu6GSV2-PR4KdHyzWAETqalZ_0XV0r94/s1600/s%C3%A3o+francisco.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="219" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRFf6UX4UaYxJNrez-Z9GXTi7iYhqitE3j8HDMEC0FoplHOUmnhUNvsBV-MhlwbpIPHXjsqQXls3dhCynym7CyjuJvGCHJ-pMxb51Oyf_To5Cbu6GSV2-PR4KdHyzWAETqalZ_0XV0r94/s320/s%C3%A3o+francisco.jpg" width="320" ya="true" /></a><span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: center; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Fiz algo que deveria ter feito há muito tempo. Em cima do guarda-roupas do meu quarto eu depositei, ao longo dos últimos ANOS, textos da Faculdade de Direito. Havia uma quantidade enorme de papéis, quase sempre fotocópias de livros, absolutamente empoeirados. Mais do que uma simples limpeza, o exercício de hoje, para mim, significou um reencontro com o passado, que eu estava, por preguiça, adiando.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">A maior parte dos textos versava sobre Filosofia do Direito, os de outras matérias normalmente eu não adquiria. Tive uma estranha sensação ao folheá-los. Quase todos eu havia lido e, mesmo assim, não tinham qualquer significado para mim. Nas três ou quatro viagens que fiz para levá-los à reciclagem, refleti que os poucos anos que me distanciavam daquelas leituras me fizeram perceber o quão falsas, hipócritas, mentirosas, seja lá que nome se queira dar, as festejadas teorias lá presentes são.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Pense comigo, será que é razoável que se dê tanta notoriedade a um pensador cuja obra prima em Filosofia do Direito é dizer que a validade de uma regra deriva de outra que lhe confere igualmente validade? A teoria desse cara, chamada “Teoria Pura do Direito”, define o Direito como um complexo de normas, ligadas umas às outras por relação de validade, formando uma espécie de degrau, um escalonamento. Haveria um início, afinal se o pressuposto da teoria é uma validade dada por uma norma preexistente, chega o ponto de ter que ter um começo, um ponto de atribuição de validade, senão a coisa vai ao infinito. Foi aí que o cara tirou da cartola a “Norma Fundamental” (nesse momento imagino quantos estudantes, acadêmicos de direito, já não se referiram à famigerada, muitas vezes, quase nada pedantes, no original em alemão: “Grundnorme”). Se você perguntar a ele (referindo-se ao autor) ou a ela (referindo-se à Teoria) sobre a fonte de validade dessa norma fundamental, ele ou ela responderia, tranquilamente: ISSO NÃO É UM QUESTIONAMENTO ESTRITAMENTE JURÍDICO, LOGO, ESTÁ FORA DO ÂMBITO DA TEORIA PURA DO DIREITO. A NATUREZA DEONTOLÓGICA DA NORMA FUNDAMENTAL É DE UM CONSTRUCTO ABSTRATO NECESSÁRIO PARA CONFERIR COERÊNCIA À TEORIA. Bonito, não?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">O que me provoca desânimo não é o fato de existir essa teoria, e que ela tenha alcançado sucesso. O que desanima é perceber que várias gerações de estudantes de direito aprendem isso na faculdade, como se essa definição fosse a mais exata acerca do que é o direito. Poucos anos de trabalho no tribunal de justiça, entre cartórios judiciais, gabinetes de desembargador e algumas leituras de textos de autores verdadeiramente filósofos (Marx, Sartre, Foucault, Zaffaroni) me fizeram perceber que a pobreza nisso tudo está em não se dar a mínima pra realidade de fora. A universidade cria um código, e o reproduz. Se lá fora o bicho tá pegando, tanto faz, o importante é a erudição, o que vale é citar em alemão “Grundnorme”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Outro autor vinha com uma história de “Teoria dos Sistemas”. Deus do Céu, quantas vezes, em sala de aula, tinha de ouvir sobre isso. Apesar de toda a empolação, é algo muito simples. O cara parte da ideia de que a sociedade é a totalidade das comunicações. Note, ele não fala em seres humanos que peidam, fodem, dormem e cagam, ele fala em COMUNICAÇÃO. Bonito, não? Aí o gênio germânico imagina a sociedade como vários grupos, esferas de comunicação, entre as quais se destacam algumas por conta de seu tamanho em relação às outras. A Economia, a Política e o Direito são as principais esferas. As bolas se tocam. Política tocando economia dá o quê? Normas jurídicas (Leis) que disciplinam as relações de mercado, etc. Quando a bola da Política toca a do Direito, ocorre a Constituição (documento ao mesmo tempo político e jurídico). Por aí vai. Não é tão complicado, ou é?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">A teoria não é ruim. Comparada com a primeira, é até mais bem elaborada. Mas, como eu disse no começo, onde estão as pessoas? Não é algo muito abstrato? Me assusta esse papo de sistema, até porque, ultimamente, até comentarista de futebol fala nisso. Já ouviu aquela conversa de “SISTEMA DEFENSIVO”? Eu sempre rio, quando não me revolto. Se o comentarista fala isso, eu mudo de canal. Lembra daquele verso do Capital (falo da banda, não se preocupe): “Se aparece o Francisco Cuoco, adeus televisão!”? É bem por aí! Será que o cara não percebe que são apenas uns pernas de pau tentando roubar uma bola, fazendo uma linha de impedimento meio torta, dizendo um para o outro “pode ir que eu fico”, “ eu dou o primeiro combate”. Não consigo imaginar que isso tenha qualquer relação com algo tão complexo como um sistema. Converse com os engenheiros eletrônicos, os doidos da informática, esses sim sabem o que é sistema. Ou mesmo com os biólogos e médicos e os peça para que eles expliquem um sistema tal com um sistema digestório, respiratório, excretor. Caso lembre de mais um vale este também.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Tinha um assistente de professor que pra dizer Luhmann, dizia LLLHHHHIIIUUUUMANN. Isso foi igualmente marcante. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;">Voltando para as teorias, o que falar do Kant? Lá na Faculdade de Direito ele é o cara! Os professores querem que a gente acredite nos imperativos categóricos. Piada, não acham? “Age no sentido de que sua conduta...” Parece que estou ouvindo um padre rezando sua missa. Nos cinco anos que estive na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco o filósofo de que mais ouvi falar foi ele. Nos passaram alguns textos, obviamente os mais ligados ao Direito. Não são maus. Ele, evidentemente, tem seu valor, foi um grande filósofo e tudo mais. O que questiono não é isso. O que é inacreditável é que filosoficamente a Faculdade de Direito da USP parou no Kant. Parou no século XVIII. Jamais ouvi falar em NIETZSCHE, muito menos em SARTRE. Forcei a barra no curso de Filosofia do Direito II e apresentei um seminário em que citava o Sartre e explicava alguns de seus pressupostos. Palavra, senti um interesse incomum por parte dos estudantes. Era notório que aquela garotada estava carente de discutir questões substanciais, temas reais, que exalam calor, que cheiram bem, ou fedem, ou que roubam nosso calor, mas que são capazes de nos envolver de verdade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Novamente tracei o caminho que me levou à ESTUPEFAÇÃO diante do ACADEMICISMO. Me lembrei que o ponto forte foi quando estudei, sozinho, é claro, sobre o existencialismo, e pude confrontar aquela filosofia com o que eu estava aprendendo na faculdade. Foi tiro e queda. Um golpe mortal no idealismo. A São Francisco perdia um estudante entusiasta, e ganhava um inimigo. Óbvio que ela não se importou.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 14pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Passados dois anos que me formei, estou pensando em tentar o Mestrado. Olha que paradoxo. Tô metendo o pau, e agora venho com essa conversa. Deixa eu explicar. Estava falando no Kant, não é? Então, a definição por ele formulada sobre os direitos humanos é a que mais se utiliza nos cursos jurídicos. Pretendo questionar tal definição através de um olhar existencialista. Questionar esse papo de “NATUREZA HUMANA”, e defender que uma concepção dos direitos humanos sob a ótica do existencialismo é muito mais pertinente na medida em que não está descompassada com a realidade. Se o discurso sobre a fundamentação dos direitos humanos parte de uma premissa que leva em conta os homens de carne e osso, que sofrem, amam e apodrecem, a conversa fica mais sincera. Ultimamente, muitos professores de direitos humanos sequer tem ideia do que estou falando. É triste, mas é assim. Eles acham que um muçulmano deve engolir os imperativos kantianos. Que os homens têm uma mesma natureza. Que é possível estabelecer padrões comportamentais apriorísticos que inevitavelmente farão com que alcancemos uma paz perpétua. Tem que ter muita paciência, não acham? Eles não fazem ideia de que o que nos une enquanto humanos é padecermos de uma mesma condição, que pode ser chamada de condição humana. Todos nós, pigmeus, esquimós, cambojanos, aborígines, suecos, estamos fadados a sermos livres, e, querendo ou não, somos responsáveis por muito do que tá acontecendo. Ao invés dos formais imperativos categóricos, prefiro pensar como o Sartre, que quando você escolhe para si, está escolhendo para todos. Compreende? É com essa conversa que quero MESTRAR por lá. O problema será encontrar professor que tope me orientar, pois se quiserem que eu leia o Kelsen, o Luhmann e o Kant não vai rolar, seus textos foram urgentemente reciclados.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com10tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-44280732950911993202013-05-26T09:55:00.004-07:002013-05-26T10:03:10.680-07:00GIGANTES GASOSOS DO UNIVERSO<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwARmo5dmvrdhaAYWDpK9Qs9W1GIWSwEPHteXHCQ8Wk8-wYeHuaqug1aY9_V9alJVzQzlaUTkx8sIGtLycYmm6ZaxWVD_unCEFNt_aEFGRCWlnGXAfrepuotoxp3b5Z5Wcd3sIOzw4Yvg/s1600/JUPITER.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwARmo5dmvrdhaAYWDpK9Qs9W1GIWSwEPHteXHCQ8Wk8-wYeHuaqug1aY9_V9alJVzQzlaUTkx8sIGtLycYmm6ZaxWVD_unCEFNt_aEFGRCWlnGXAfrepuotoxp3b5Z5Wcd3sIOzw4Yvg/s320/JUPITER.jpg" width="320" ya="true" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Assustado pelo vazio<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Enquanto se vê repleto de coisas<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Como pode haver tanta contradição?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Penso que a vida deveria ser bem mais simples.
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Apesar dos pensamentos<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Ocorreu que, naquela noite de domingo,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">As coisas não aconteceram como soavam acontecer<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Por que, diabos, depois de tanto tempo?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Tudo estava devidamente arrumado<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Prateleiras instaladas, móveis limpos<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Não era motivo para comemorar?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">E então? Por que sofria?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">O vazio é pesado<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Gigantes gasosos do universo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">“Não tem que fazer sentido, meu caro!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Relaxa, esqueça!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Se você pensar de mais pode enlouquecer<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">(Como se loucos já não estamos todos)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Repense, ressinta<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Sofrer é bom, é viver<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Quantas solidões lhe aguardam, não perderá por esperar”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Que somos fortes, posso concordar<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Mas não dá pra negar que a solidão faz doer os ossos<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Criaturas inconvenientes <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Ousaram entender a si mesmas<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Olhe os animais, e observe, depois, os homens<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Somos tão estranhos<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Algo deu errado na evolução<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Muito grito para que tudo dê certo<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Quando nós, a despeito de tudo que martela em nossas mentes,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Humildemente, temos que reconhecer:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="background-color: #444444;">Não passamos de um engano.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5518465067877875206.post-71543491555067271482013-05-26T09:36:00.003-07:002014-01-18T09:36:44.677-08:00POR QUE OPTEI PELO BLOG<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIRQUjWuwgTV_TyVmDFS2OCRMJl3TeVYzv_YlJknFyXum3Xi1uG4lwBeEpQUi7kJnhF_qwcZ4SJOjYDMvqH15bFuWeCVuunRi_FdEFOv5JLaSBgjyq9DVAUv6qiBayLuzQJX4ft4aItGU/s1600/bike+do+face+II.bmp" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiIRQUjWuwgTV_TyVmDFS2OCRMJl3TeVYzv_YlJknFyXum3Xi1uG4lwBeEpQUi7kJnhF_qwcZ4SJOjYDMvqH15bFuWeCVuunRi_FdEFOv5JLaSBgjyq9DVAUv6qiBayLuzQJX4ft4aItGU/s1600/bike+do+face+II.bmp" ya="true" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="background: #444444; color: #f3f3f3; font-family: 'Verdana','sans-serif';"> Essa foi uma pergunta que me fiz várias vezes. Todos estão no facebook, não seria melhor escrever por lá? Do ponto de vista mercadológico, a opção pelo "Face" era bastante óbvia. Ocorre, porém, que confesso sentir um certo nível de náusea por aquelas bandas, e uma repulsa não tanto menor por esse papo de mercadologia. Vou me explicar melhor.</span><span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';"><o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background: #444444; color: #f3f3f3; font-family: 'Verdana','sans-serif';"> Acima está o diretor, eu acho que é isso, ou presidente, sei lá, do "Facebook no Brasil". Muito bem. Estiloso ele, não? O cara fez questão de que o fotografassem ostentando essa maravilhosa bicicleta azul. De fato a bike é sensacional e já vou adiantando, não tem culpa de nada. Lembre que a magrela é um ser inanimado. Se anda por aí é por propulsão humana. Não é capaz de desenvolver uma inconveniente consciência, OK?</span><span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';"><o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background: #444444; color: #f3f3f3; font-family: 'Verdana','sans-serif';"> O bonitão da foto, "Capo di Face", veio com uma conversa extremamente marqueteira para os jornalistas que cobriram a inauguração do escritório da multimilionária empresa/ rede social. Segundo ele, no escritório os funcionários se locomovem usando bikes, skates, patins. Como são defensores de causas ecológicas, acreditam que o uso cotidiano de transportes alternativos é algo bastante salutar para o nosso sofrido planeta. Depois dessas palavras, calculo que muitos usuários do facebook passaram a fazer uso da rede social com muito mais tesão. Usar o "face" teria um quê de politicamente correto. Não estaria mentindo se lhes dissesse que desejo, vez ou outra, ser mais idiota do que já sou. Acreditar na publicidade, ser seduzido pelas artimanhas marqueteiras, com certeza, em alguma medida, me traria uma certa sensação de felicidade, bem estar. Entendem? Bom, mas voltando à justificativa, preciso deixar claro que quando vi essa reportagem, logo me veio à mente que esse yuppie chefão do face POSA com a bicicleta, dá uma de engajado em causas ambientais, mas, após o expediente, entra num carrão blindado, todo preto, altamente potente, de rodas bem grandes, imponente, aristocrático, que faz rememorar os grandes industriais do século XIX. </span><span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';"><o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background: #444444; color: #f3f3f3; font-family: 'Verdana','sans-serif';"> Penso que vivemos tempos de LADYGAGALIZAÇÃO DA REALIDADE. Isso significa que a verdade deixa de importar. O que vale são as imagens. Como canta Lobão: É TUDO POSE!</span><span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';"><o:p></o:p></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background: #444444; color: #f3f3f3; font-family: 'Verdana','sans-serif';"> A história da pose do chefe do "Face Brasil" é só um exemplo que ilustra a razão pela qual opto pelo Blog. Entendo que as possibilidades permitidas pela blogosfera são muito maiores do que as do facebook. Além disso, poder se livrar daquelas postagens defendendo penas de morte - redução de maioridades penais- o que se comeu no almoço - o que se comeu no jantar - o que gostaria de se comer no almoço - o que gostaria de se comer no jantar - é um argumento extremamente forte, não acham?</span><span style="font-family: 'Verdana','sans-serif';"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="background-color: #444444;"><br /></span></div>
</div>
<span style="background-color: #444444;"></span>Alexandre Bolfarinihttp://www.blogger.com/profile/17616937635164842333noreply@blogger.com4