Os últimos dias não têm sido lá muito
animadores. É tanta bosta acontecendo e sendo noticiada, que a galera tá se
pegando em discussões sobre que merda fede mais. O que, evidentemente, não
contribui pra porra nenhuma, mas as pessoas tomam partido e aí já viu, né?
Cerca da quinta parte do Estado de
Minas Gerais pode ficar mergulhado em lama tóxica e mais um bocado do Espírito
Santo (tão noticiando que mais barragens podem estourar – imagine só o nível da
merda em se considerando as possíveis cagadas ainda não admitidas, e como a
gente bem sabe, sempre há cagadas não admitidas) isso tudo em função de um puta
CRIME AMBlENTAL, que eufemisticamente a nossa escrota imprensa insiste em dar o
nome de “acidente” e/ou “tragédia”. Simplesmente, as podres de ricas das
mineradoras, responsáveis pela cagada,
pouco estavam se cagando pra
possibilidade de as barragens se romperem. A única preocupação delas era
garantir os lucros dos acionistas, como todo o ser humano minimamente lúcido
sabe. O governo, por sua vez, tanto nos Municípios, no Estado e na União, foi
conivente; aliás, como sempre é com as grandes mineradoras. O amor tórrido
entre o Estado brasileiro e as grandes corporações que representam dinheiro
rápido é absolutamente inquestionável. Nossos políticos não sentem tesão pelo “a
longo prazo”, pelo “desenvolvimento social”; o que lhes excita é a grana
correndo nos cofres, farta e imediata.
Em França, como dizem os pernósticos,
o bicho pegou também. Mais de uma centena foi massacrada pelos maníacos do
chamado Estado Islâmico - o Califado que pretende dominar todo o mundo árabe e
inclusive as regiões que na IDADE MÉDIA fizeram parte do Império Islâmico (os
portugueses e espanhóis que fiquem espertos...) e que declarou guerra ao
Ocidente. A imagem de uma tragédia grega (ainda não escrita) em que a mãe é
odiada e assassinada pelo próprio filho ilustra o porquê do Estado Islâmico. O
Ocidente (que também somos nós, pois enquanto brasileiros, somos ocidentais,
ainda que de perifa, ok?), na figura do mais ilustre dos seus representantes,
ninguém mais ninguém menos que os Estados Unidos da América, É A MÃE DESSE
MOVIMENTO TÃO BOÇAL. Ao contrário do que a molecada fascistinha anda postando
no facebook, as atrocidades cometidas por esses caras não estão radicadas no
Alcorão, simplesmente não decorre do islamismo. Sei que a maior parte das
pessoas não é capaz de interpretar as coisas de um modo não hollywoodiano
(décadas de lixo cultural embotaram suas mentes), ou seja, querem demonizar um
grupo, e divinizar outro. Se os muçulmanos fossem tão ruins assim como dizem,
rapaziada, possivelmente nem eu nem você existiria. Vou me explicar melhor. Os árabes
ocuparam o que hoje é a Espanha e Portugal, certo? Certo. Pois bem, sei que
você não gosta dessa conversa, mas agüente firme, no final vai lhe fazer bem. Me
diga uma coisa, durante essa ocupação árabe você já ouviu falar de imposição da
religião muçulmana em cima dos cristãos? De terem arrancado a cabeça dos infiéis? Se você ouviu alguma coisa
assim, sinto lhe dizer, você não sabe PORRA NENHUMA de história! Os árabes respeitavam
as religiões diversas e eram bem menos hostis que os invasores romanos, meu
caro (você se recorda do que os nossos antepassados “civilizadíssimos” romanos
aprontaram com os judeus? E com a galera de Cartago...?). O principal interesse
deles era comercial. E, assim como os romanos, foram os responsáveis pelo
desenvolvimento cultural das regiões em que ocuparam. Inclusive, há quem
sustente que as grandes navegações ibéricas só ocorreram a partir dali
justamente por conta dos avanços tecnológicos trazidos pelos mouros (esses
barbudos que você não gosta) Isso sem contar que foi graças aos árabes (
narigudos, de olheiras, pele trigueira, cabelos negros...) que a herança
cultural grega chegou até nós. Se não acredita, pergunte ao seu professor de
história.
Na África, “por incrível que pareça”,
o bicho continua pegando. As contínuas e insanas lutas tribais (muito bem
armadas pelas potências ocidentais, frise-se) têm martirizado o povo africano e
a notícia de centenas e centenas de mortes tem sido freqüente. Tretas na
Nigéria, na Líbia, Sudão...No Oriente Médio, uma guerra civil que não tem fim. O resultado disso são milhões de
refugiados, que simplesmente lugar nenhum do mundo quer por perto, por
vários motivos, inclusive os mais mesquinhos que você pode imaginar. Os
autodeclarados cristãos, inclusive, se esquecem dos ensinamentos bíblicos e se
prendem à conversa xenófoba dos lunáticos apocalípticos que acabam ganhando
platéia em tempos difíceis. É foda!
O mundo é um moinho. Cass, a garota
mais linda da cidade, simplesmente não consegue suportá-lo. Não que seja um
problema dela. O problema está no mundo. É o mundo que não a aceita como ela é.
Ele até a quer, mas de um jeito que Cass não consegue ser. Ela prefere
desaparecer a ter que ser como o Espremedor quer. A mestiça de índios cherokee
e irlandeses - eu a imagino assim -,
incapaz de fingir sentimentos, de recolher o choro ou de esconder sua
felicidade, não dava a mínima para as notícias dos outros continentes. Não que
ela não sofresse pelos outros; muito pelo contrário. Ela só não conseguia
fingir interesse por algo que não pertencia à verdade dela, ao mundo dela. Cass
estava inteira em cada situação, em cada alegria, em cada dor; ela intuía que
aqueles sujeitos engomados que comentavam os assuntos na TV eram mortos vivos,
incapazes de realmente sentir algo, e que tudo aquilo era uma puta falcatrua,
uma baita picaretagem. Para Cass, eles não passavam de abutres. A linda mestiça
ajudava as pessoas pobres que conhecia, e nunca se gabou disso; não por temer
passar por orgulhosa ou arrogante, mas porque sabia que tudo o que pudesse
fazer por essas pessoas não seria o suficiente para salvá-las. Cass sentia toda
a dor do mundo na figura de um só mendigo, ou de um só bêbado derrotado na
calçada do bar. Ela vibrava nas ondas do ambiente. Ela era toda empatia. Um
dia, Cass desistiu, antes que o mundo a moesse.
O editor alemão do Bukowski o
convidou para passar uns dias no Rio de Janeiro. Sigfried, o editor, há muito
conhecia o verão carioca e estava em falta com o velho Buk. Teria sido
impossível convencê-lo se não fosse a caipirinha (Sigfried o levou para um bar,
em L.A., que servia o drink, e disse ao Hank que no Brasil era ainda melhor) e
a promessa de editar seus livros no Brasil e apresentar belíssimas cariocas.
Charles Bukowski sempre ouvira dizer sobre a beleza das brasileiras e perguntou
e reperguntou a Sigfried sobre esse mito. O editor, como bom alemão que era,
disse que não havia em lugar nenhum do mundo mulher mais bonita. E, empolgado,
disse a Bukowski que não só as mulheres, mas a música carioca era a melhor do
mundo. O velho Buk não respondeu; pensou que o editor estivesse tão bêbado que
já estava no grau de falar bosta.
Era fevereiro. Rio 40 graus. Hank e o editor alemão tomavam uns tragos num
botequim. Sigfried insistia num papo de que faria uma surpresa ao velho Buk.
Hank já estava na lona, não queria mais conhecer mulheres. Havia tentando umas,
levou uns tapas, broxou, foi foda. Estava com preguiça de começar tudo aquilo
de novo. E o calor carioca era surreal. Mas Sigfried lhe disse que não era uma
outra garota, mas sim um poeta. Logicamente, o Bukowski ficou mais puto ainda: “porra,
Sig, você sabe que eu odeio poetas!” Sigfried riu, e disse que era um poeta
brasileiro, o melhor letrista e sambista que o mundo já teve. Nessa altura,
Bukowski já havia conhecido o samba-canção, o choro e a bossa nova. Tinha ficado
com o samba canção e a caipirinha.
E não é que ninguém mais ninguém
menos que Cartola apareceu no botequim? O alemão abriu um sorriso que o Buk
jamais havia visto naquela fuça tão sisuda. Em português, insistiu para que o
homem se aproximasse. Fez as honras. Incrivelmente, Charles Bukowski logo
simpatizou com Cartola. Em geral, se dava bem com homens negros, a vida lhe
havia ensinado a sabedoria que essa gente tem. No momento em que botou os olhos
no Cartola calculou que aquela cara toda detonada, aquele corpo magro, era pura
poesia. Via um homem feio, mas que ao mesmo tempo era incrivelmente belo, como
uma divindade. Talvez a bebida tivesse ajudado. O caso é que os três beberam e
riram muito. O astuto Sigfried, o editor, habilmente fazia a tradução.
O mundo, esse gigante moinho, não
parou de moer e estourar enquanto os três estavam juntos. Claro que não. A
jovem mulata teve seus sonhos triturados. Cass havia cortado, pela última vez,
seu belo pescoço igualmente mestiço. Mas havia a possibilidade, o porvir. Se
existe solução para todo o sofrimento do mundo ela mora exatamente no mesmo
lugar de onde surgem todos esses sofrimentos, como soro pra veneno de cobra:
está na nossa diferença. Se você tem tanto orgulho daquilo que você é (negro,
branco, índio, gay, gigolô, muçulmano, judeu, traveco...) saiba, querido, que
você só é porque outro não é, ou seja, num mundo em que todos se tornassem
exatamente iguais, as suas singularidades desapareceriam, VOCÊ DESAPARECERIA.
Se você ainda não entendeu, agora vai: o que seria do Corinthians sem o
Palmeiras? Portanto, porra, se você precisa de motivos para amar, ame as outras
pessoas porque elas são condição pra você ser o que você é. Cass não precisava
de motivos. A jovem mulata também não. Quem sabe um dia você também não
precisará? Quem sabe...
Saber desanima.
ResponderExcluirGK