Eles forçaram a rima torta com paixão
No instante em que, juntos, estavam selados à vida e à morte
Para até o último dia, ligados às vísceras
O casal soropositivo havia tido uma filha
E, a despeito de, durante toda a gestação, a mãe abusar do
crack
A menina nascia magnânima
A vida se renovava mesmo diante de todas as circunstâncias
em desfavor
As tosses contínuas, as febres, as estranhas e inesperadas
melhoras
Não se poder ter a menor ideia sobre o modo de se estar no
dia seguinte
A dependência cruel, a insistência do Sol em aparecer cada
vez mais quente e brilhante
O olhar de pena combinado com nojo vindo dos outros, de
todos os outros
O único desejo: o de desaparecer, lentamente, no último trago,
fazendo-se virar fumaça
Sem nem saberem como, muito menos o porquê, aquela menina
estava ali,
Fazendo-se acontecer e forçando-os a resistir, nem que fosse
por mais um dia, apenas
Sem desculpas, nem perdões
Apenas a realidade,
Para todo o fim,
Em sua profunda indiferença.
Às vezes toda a vida se extravia em seu pulsar
ResponderExcluirÀs vezes, todavia, a vida pulsa sem parar
GK
doença pode rimar com crença (de que as coisas podem melhorar um dia, crença de que o sol, uma vida, sempre poderão iluminar aquilo, aquele, que já está aparentemente morto) mas tbm rima com sua irmã, a descrença, descrença pois aquele que nasce puro ao longo da vida, ao ver tanta realidade, vai mergulhando na profunda indiferença, talvez para sobreviver a uma outra doença: a da loucura.
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